O DESAPARECIMENTO DO BOING 777 AINDA E UM MISTÉRIO E DEZ QUESTÕES SEM RESPOSTAS FORAM LISTADAS PELA BBC DE
LONDRES QUE INTRIGAM LEIGOS E ESPECIALISTAS
O Boeing 777, que decolou da capital malaia, Kuala Lumpur,
em direção a Pequim no dia 8 de março, levava 239 pessoas a bordo, a maioria
delas chinesas.
Já se sabe que o avião abandonou a sua rota original e que
um aparelho que permite a localização da aeronave, o chamado transponder, foi
desligado.
Nesta semana, o governo da Malásia também afirmou que novos
dados confirmam que o avião caiu em algum ponto do sul do Oceano Índico, onde
imagens de satélite identificaram dezenas de objetos que se acredita que sejam
destroços do avião.
Porém, alguns detalhes, assim como as razões por trás do
ocorrido, ainda permanecem um mistério. A BBC preparou uma lista de dez
perguntas em relação ao caso que intrigam leigos e especialistas. Confira:
1 - Por que o avião
fez uma curva brusca para a esquerda?
Registros de radares militares mostram que o voo MH370 virou
de forma inesperada para o oeste e então desviou de seu plano de voo. Neste
momento, o transponder - que emite uma resposta com dados como, identificação,
velocidade, altitude e posição da aeronave - já tinha sido desligado.
Viradas bruscas como estas são "extremamente
raras" segundo Guy Gratton, do Laboratório de Segurança de Voo da
Universidade Brunel, na Grã-Bretanha. Ele afirma que os pilotos fazem este tipo
de manobra apenas se houver algum problema grave no avião, que faça com que
eles decidam desviar o voo para um destino diferente, para pousar a aeronave.
Este motivo pode ser um incêndio, outra aeronave na área ou
uma descompressão repentina, segundo David Barry, especialista em monitoramento
de dados de voos na Universidade Cranfield.
Má intenção - do piloto ou de algum invasor na cabine - é
outra possíbilidade.
Mas, a não ser que a caixa preta do avião seja encontrada, o
que realmente aconteceu na cabine dos pilotos naquele momento vai continuar
sendo motivo de especulação.
2 - É possível
especular que o piloto queria cometer suicídio?
Se o piloto tiver buscado se suicidar, essa não terá sido a
primeira vez na história da aviação.
Acredita-se que as quedas dos aviões da Egypt Air (voo 990)
em 1999 e da Silk Air (voo 185) em 1997 foram causadas deliberadamente por um
piloto, apesar de estas justificativas serem contestadas.
A Rede de Segurança em Aviação - uma organização privada e
independente especializada em segurança de voo - afirma que ocorreram oito
casos de quedas de aviões ligadas a suicídios de pilotos desde 1976.
Até o momento, não foram divulgadas provas que justifiquem
que foi isso que ocorreu no voo MH370, embora já tenham sido realizadas buscas
nas casas do capitão e do copiloto do voo MH370, Zaharie Ahmad Shah e Fariq
Abdul Hamid.
Especula-se que Shah pudesse estar abalado depois de se
separar da esposa, mas até o momento não há fontes confiáveis para verificar
qual era o estado mental do piloto no momento do voo.
David Barry afirma que o aparente desligamento do
transponder pode ser um sinal de que ele tentou se matar, mas que "a
teoria do suicídio do piloto é uma entre todas as outras".
"Simplesmente não há qualquer coisa que prove ou não
prove isto", acrescentou Gratton.
3 - O cenário de um
sequestro é possível?
Desde os ataques de 11 de setembro de 2001, aeronaves como
esta têm portas reforçadas nas cabines dos pilotos a fim de evitar que
invasores assumam o controle.
David Learmount, editor no setor de segurança da revista
especializada Fligh International, afirmou que estas portas são "à prova
de balas" e "não poderiam arrombadas com um machado".
Sylvia Wrigley, que pilota aeronaves menores e autora do
livro Why Planes Crash (“Por que aviões caem”, em tradução livre) afirma que é
improvável que alguém tenha invadido a cabine do piloto.
"Mesmo se quebrassem a porta, eles não conseguiriam
entrar antes de uma chamada de socorro, a não ser que os pilotos estivessem
incapacitados", afirmou.
Mas, de qualquer forma, não importa o quanto a porta é
segura, existem momentos em que a porta é aberta - quando um membro da
tripulação vai ao banheiro ou precisa checar algo na cabine. Em ambos os casos,
seria possível correr para a cabine nestas ocasiões.
Familiares dos passageiros ainda têm muitas dúvidas sobre o
paradeiro do avião
Algumas companhias aéreas, incluindo a El Al de Israel, têm
portas duplas para evitar justamente esta situação.
Gratton afirma que há um procedimento que requer que um
membro da tripulação guarde a porta quando ela estiver aberta.
Mas, mesmo se os sequestradores correrem para a cabine de
controle, seria fácil para qualquer tripulante enviar um sinal de socorro.
A segurança das portas da cabine oferece proteção contra a
entrada de invasores, mas também evita que algo possa ser feito se algo ocorrer
lá dentro. Por exemplo: no mês passado, um copiloto da Ethiopian Airlines
esperou que um piloto fosse ao banheiro para assumir o controle do avião,
sequestrando-o, voando para a Suíça.
Também existe a possibilidade de que um piloto convide um
passageiro a visitar a cabine de controle. Foram descobertas fotos do copiloto
do MH370 junto com turistas adolescentes em uma cabine de uma aeronave em um
outro voo anterior.
A Boeing afirma que não seria apropriado fazer comentários
sobre uma investigação ainda em andamento.
4 – Teria ocorrido
algum acidente dentro do avião?
Wrigley acredita que é possível que uma sequência de eventos
possa ter levado o avião para tão longe de sua rota por acidente.
"Algo pode ter dado errado em estágios. Um incêndio
pode ter tomado parte do avião ou levado à falha de alguns sistemas, mas
deixado o avião intacto. Então pode ter ocorrido descompressão - não uma
descompressão explosiva, mas uma gradual", disse.
Wrigley cita o voo 522, da Helios Airways, que colidiu com
uma montanha da Grécia em 2005 depois de perder a pressão e a falta de oxigênio
ter incapacitado a tripulação. Naquela ocasião, o avião voou usando o piloto
automático.
"Se o avião da Helios não tivesse atingido a montanha,
teria continuado até o combustível acabar. Não estou dizendo que é um cenário
provável, mas não é impossível", disse.
Pilotos destacaram que uma das primeiras medidas em muitos
treinamentos de emergência é enviar uma mensagem ou alguma outra forma de sinal
ao controle de tráfego aéreo.
Para um cenário puramente acidental fazer sentido, qualquer
evento que tenha acontecido deve ter simultaneamente derrubado todas as formas
de comunicação com terra.
5 - Por que não houve
nenhuma medida quando o sinal do transponder foi desligado?
O transponder do MH370 foi desligado enquanto a aeronave
saía da área de controle de voo da Malásia para o espaço aéreo do Vietnã, sobre
o Mar do Sul da China.
Se um avião desaparecesse na Europa, Barry e Gratton afirmam
que alguém do controle de tráfego aéreo teria notado e dado o alerta
rapidamente.
"Pelo menos eu esperaria que os controladores de voo
tentassem entrar em contato com uma aeronave próxima para tentar estabelecer o
contato direto. Frequentemente os pilotos usam um sistema de comunicação para
evitar colisão durante voo chamado de TCAS que detecta transponders de outras
aeronaves para garantir que eles não estejam próximos demais uns dos
outros", disse Gratton.
No entanto, de acordo com o ex-piloto da British Airways
Steve Buzdygan, existe um intervalo, ou "ponto morto", de cerca de
dez minutos na transmissão VHF antes de o avião cruzar para o espaço aéreo
vietnamita.
Learmount afirma que também é possível que ninguém em terra
tenham notado o desaparecimento.
"O controle de voo da Malásia provavelmente entregou o
avião para os vietnamitas e esqueceu o assunto. Pode ter ocorrido um atraso de
cinco minutos antes de alguém notar que o avião sumiu, um intervalo em que
ninguém apertou nenhum botão", disse.
E, segundo ele, mesmo que o controle de tráfego tivesse
notado que o avião estava desaparecido, eles podem não ter divulgado a informação.
6 - Por que satélites
militares não estão tendo papel central nas buscas?
Satélites militares e de governos não tiveram muita
importância nas buscas até agora. Isto levou a especulações conspiratórias de
que o destino do avião era conhecido desde o começo.
As buscas no mar, a cerca de 2,5 mil quilômetros ao sudoeste
da cidade de Perth, na Austrália, estão sendo feito com base em imagens feitas
por satélites comerciais.
Dan Schnurr, chefe de tecnologia da empresa Geospatial
Insight, afirmou que existem 20 satélites conhecidos que têm uma resolução
capaz de obter estas imagens. Destes, provavelmente cerca de dez capturam
imagens diariamente.
As imagens são transmitidas dos satélites em um tempo muito
próximo do real, dentro de duas ou três horas depois de sua captura. O atraso
para detectar imagens que valham algo se deve à análise do grande volume de
imagens captadas.
Getty
Buscas continuam em área do oceano a cerca de 2,5 mil km da
Austrália
Laurence Gonzales, autor do livro Flight 232: A Story of
Disaster and Survival, afirma que alguns países têm sistemas mais sofisticados
do que gostam de admitir.
Porém, Gratton afirma que satélites militares que procuram
por mísseis balísticos provavelmente não estariam preparados para capturar
imagens de aeronaves ou destroços.
"Esta aeronave estava a sete milhas de altura (cerca de
11,2 quilômetros) e viajava a três quartos da velocidade do som. Mísseis
balísticos vão a quatro ou cinco vezes a velocidade do som, e 30 a 50 milhas de
altura (cerca de 80 quilômetros)", disse.
7 - O avião planou
sobre o mar ou mergulhou depois de acabar com o combustível?
Determinar os últimos momentos do MH370 parece depender de
como o avião estava sendo conduzido naquele momento - pelo piloto ou não.
"Se estivesse sob controle (do piloto), o avião teria
planado. O Airbus que foi parar (em janeiro de 2009) no Rio Hudson, em Nova
York, perdeu os dois motores, que é um resultado idêntico a ficar sem
combustível, e o piloto conseguiu pousar na água", disse Gratton.
Barry concorda que pode ter ocorrido uma descida mais suave.
"Aeronaves deste tamanho vão voar normalmente ou planar
durante 50 milhas (cerca de 80 quilômetros) antes de atingir o mar caso acabe o
combustível."
Mas, se o avião estava sem controle, a descida pode ter sido
brusca.
8 - Os passageiros teriam percebido que algo estava errado?
Joe Pappalardo, editor da revista especializada Popular
Mechanics, afirma que, na maioria dos casos em que o avião voa fora do curso
durante horas, os passageiros podem não notar.
Por volta das 1h, muitos dos passageiros estariam dormindo.
E, pela manhã, os mais espertos teriam notado que o Sol estava na posição
errada.
As autoridades da Malásia disseram que o avião subiu para os
45 mil pés antes de cair 23 mil pés, depois da mudança de rota. Se este for o
caso, os passageiros teriam sentido a perda de altitude, segundo Pappalardo.
Uma teoria é que a aparente subida do avião pode ter tido o
objetivo de induzir à hipóxia, a falta de oxigênio, que poderia ter deixado
todos inconscientes antes de morrer.
"Na versão história de horror, os passageiros podem ter
percebido que algo estava errado enquanto o avião subia, e um evento de
descompressão pode ter levado à liberação das máscaras de oxigênio e uma
consciência de que o oxigênio era limitado. Um cenário melhor é que eles não
sabiam de nada até o impacto", disse Wrigley.
9 - Por que os
passageiros não usaram os telefones celulares?
Imagens de satélite mostram supostos destroços do avião no
Oceano Índico
Uma questão frequente é por que, se estava óbvio que algo
estava errado, os passageiros não usaram seus celulares e ligaram para
familiares dando o alerta. Isto parece estranho principalmente em vista do
exemplo o voo United 93, no qual os passageiros conversaram com familiares em
terra depois que o avião foi sequestrado em 11 de setembro de 2001.
Foi declarado que é extremamente improvável que os celulares
captassem sinal em um avião a uma altitude tão alta. Barry afirma que as
chances de um celular funcionar no avião nesse caso são "virtualmente
impossíveis".
"Pode ser difícil conseguir um sinal em uma estrada
remota, imagine a 11 quilômetros de altitude, longe de antenas, viajando a oito
mil quilômetros por hora", disse.
10 - Por que os
aviões não podem ser ajustados para enviar todos os dados em tempo real para um
satélite?
Em uma era na qual as pessoas estão acostumadas a descobrir
a localização de um smartphone roubado com o uso da tecnologia, é
desconcertante que, ao desligar alguns sistemas, uma aeronave tão grande possa
simplesmente desaparecer por tanto tempo.
Barry afirma que a tecnologia para os aviões enviarem dados
em tempo real já existe. O problema é que os aviões voam com a tecnologia que
existia na época em que seus modelos foram lançados – em muitos casos, anos ou
décadas atrás.
"Estamos pesquisando dispositivos que vão permitir que
aeronaves transmitam informações pelo satélite quando algo diferente, como fogo
ou descompressão, acontece, mas é difícil encaixar coisas em um avião do
passado. O 777 entrou em serviço no início dos anos 90... a tecnologia é
daquela época", disse. BBC DO BRASIL








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