JM JORNAL DO MUNICÍPIO - JM JORNAL DO MUNDO - MULTIMÍDIA

JM JORNAL DO MUNICÍPIO - SUPLEMENTO - JM JORNAL DO MUNDO: A INFORMAÇÃO EM TEMPO REAL: NOTÍCIAS, REPORTAGENS, ARTIGOS, LITERATURA, VÍDEOS, FOTOS, SOM&IMAGEM E MUITO MAIS! A NOTÍCIA INFORMANDO E FORMANDO OPINIÕES. CONTATOS: jmjornaldomunicipio@gmail.com

JM JORNAL DO MUNICÍPIO:

SUPLEMENTO JM JORNAL DO MUNDO- JORNAL MULTIMÍDIA EM TEMPO REAL

Ano 6 - Edição 2451-

- Março

2016 -

Fortaleza-Ceará-Brasil

Portal do Tempo

A FÊNIX E O TEMPO: O NOVO

JM JORNAL DO MUNICÍPIO

José Mario Lima

Houve um tempo em que pensava que era feliz e nem de longe suspeitava o que era a felicidade. Estava cansado da vida na cidade grande, do trabalho nos grandes jornais e da vida de boi, que nos condicionava ao nada existencial. Nessa época comprei um sitio em Itaboraí, Rio de Janeiro e fui criar galinhas, cavalos, bois de verdade.

Tinha toda liberdade do mundo, não precisava andar de paletó e gravata, não tinha satisfação a dar a ninguém. Mas dizem que jornalismo é uma grande cachaça e terminei cedendo a convites de políticos locais e fundei para eles “O Municipalista”.

Já tivera uma forte decepção ,quando outro jornal que ajudei a criar, “O JE”- Jornal do Escritor, com Jose Louzeiro, terminou seus dias em 1971, levando com ele a esperança, viagens e um convívio amigo, insubstituível, em se tratando de quem vive em megalópoles como o Rio de Janeiro.

Não é todo jornalista que tem a coragem de largar O Globo, Correio da Manhã, para se dedicar a uma vida campesina, onde o tempo e a liberdade são infinitos, mas se ganha pouco ou quase nada. Assim, mordido pelo verme do jornalismo, em 1981 sonhei com um novo jornal, este só meu, e criei em Cachoeiras de Macacu , o JM Jornal do Município.

Nosso objetivo era divulgar o municipalismo e lutar pelas liberdades democráticas, que vimos surgir no Brasil só com a Campanha das Diretas já, que nosso jornal divulgou com grande destaque e foi uma das vozes nos 42 municípios cariocas de então.

Imitando os passos do mestre José Louzeiro, jornalista e escritor que muito nos influenciou ao longo da carreira, nos propusemos e fizemos, um jornal do interior com cara de jornal da metrópole e com isso conquistamos a amizade de homens como Manoel da Silva, então prefeito da cidade, Paschoal Guida, poeta, contista e artista de cinema; Miguel Guida, seu irmão, odontólogo e intelectual e o saudoso José Carlos Guida, que chegou a indicar nosso nome para cidadão cachoeirense.

Bem, mas isso são coisas do passado e fatos políticos e místicos nos afastaram de Cachoeiras, mas o jornal continuou sua missão em nosso exílio, na capital do Rio de Janeiro, no Ceará (Maranguape -1982), onde lançamos a campanha de emancipação do Município de Maracanaú.

Do Ceará voltamos para o Rio e continuamos o JM Jornal do Município, na sede da Gazeta de Notícias, o jornal mais antigo do Rio, graças a um grande amigo: Luis Borba. Agora contávamos  com o apoio de Ubirajara Muniz, diretor do DER-RJ, de Cibilis Viana o homem forte do governo Brizola. Vimos à democracia voltar ao país, o JM agora era em off-set e continuava sua luta em defesa das liberdades democráticas e dos municípios.

Mas o sábio tempo tinha outra missão nos esperando. Nossas metas tinham sido cumpridas e resolvi largar tudo, quando uma maré de sorte soprou sobre nós.
 Era tempo de voltar à terrinha e cumprir o que estava traçado. A missão espiritual me chamava, exigia a minha presença.

Não me arrependo de nada. Se tivesse que recomeçar, começaria de novo do mesmo jeito. Fiz muitos, infinitos amigos, que até hoje, 25 anos depois, são os mesmos camaradas. Entre eles esta o meu “irmão de sangue”, à moda índia, e parceiro, Nilmar Marques, hoje avô e residindo no Faraó, em Cachoeiras de Macacu.

Mas tudo tem seu tempo certo e a velha Fênix rediviva, saindo de suas eternas cinzas, deitou suas lágrimas curadoras sobre nós, apagou magoas, fez esquecer a dor e o medo.  

O JM Jornal do Município renasce de novo para novas missões e agora com a ajuda inestimável de meus dois filhos, Gabriel e Alice, numa época de velocidades incríveis, não mais em papel jornal, mas nas páginas iluminadas dos computadores, em edição digital, através da internet.

Mesmo já tendo entrado no portal da terceira idade, ainda  sinto o mesmo jovem  idealista, corajoso, que criou o JM, e sei que em sua nova missão, de ajudar as comunidades, bairros, municípios, ele se tornará eterno por sua resistência ao tempo, como a Fênix mitológica, que renasce das cinzas para uma nova e longa vida.

O tempo só não apagou de mim as saudades de amigos eternos que fiz - muitos deles já na eternidade: Amalio Aguiar, O Saga: Borba, Napoleão, Ubirajara Muniz e tanto outros que se foram. E os que permanecem vivos como José Louzeiro, Assis Brasil, Nilmar Marques, João de Deus Pinheiro Filho, Paschoal e Miguel Guida, Dr. Manoel da Silva, Vandal, tenho  também  certeza que não poderão nos esquecer, nem ao JM Jornal do Município.
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HÁ UM AO ATRÁS RENASCIA O JM JORNAL DO MUNICÍPIO, HOJE JORNAL DO MUNDO: MAIS DE 28 MIL ACESSOS E 36.900 VISITAS POR PÁGINAS, SEGUNDO ESTATÍSTICA DO GOOGLE.


Papo na Rede, TV Jangadeiro, dezembro 2010 



O JM COMPLETA SEU PRIMEIRO
ANO DE EDIÇÃO DIGITAL

O JM cresceu por dois anos em Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro. Inundou  de noticias os 42 municípios fluminenses de então, ( 1981/1982), e foi para a capital do Rio de Janeiro, onde lutou pelasDiretas Já, e pela volta dos direitos individuais e democráticos.

Testemunhou a volta da democracia ao País e granjeou a simpatia de políticos como Leonel Brizola, Ubirajara |Muniz , ( de saudosas memorias) , Manoel da Silva e tantos outros. Recebeu menções honrosas da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e de outras câmaras de municípios fluminenses e, em 1985 adormeceu.

Há um ano, exatamente no dia 04 de novembro de 2010 , o JM ressurgiu das cinzas, como a velha Fênix. Agora no formato digital, on line e em tempo real. A velha equipe de colaboradores e o “sangue novo” foi convocada para fazer  parte desse sonho que se tornou realidade e que vem desafiando o tempo, a tudo e a todos.

Com o designe de Gabriel Pontes, meu filho e estudante de Jornalismo , e com a maestria em Web Designe de Alice Farias Lima, também minha filha ( ambos estudantes da FIC), o jornal alçou voo.

Muitos colaboradores fizeram ele se tornar realidade, como o estudante de Jornalismo Rogério Maia, Igor Moreira Pinto, Libório Leite Filho, Dra. Celina Corte, entre outros. Alguns não estão mais conosco, mas foram peças importantes nesse primeiro ano do JM. AAgência da Boa Noticia, com uma legião de articulistas e outras matérias de interesse comunitário supriu  nossas necessidades , para bem informar .

Afora essas ajudas valiosas, como as de Paschoal Guida , com seus poemas e Nilmar Marques , no Rio, como seus “causos”, nosso dia-a-dia virou uma obsessão: catar noticias que interessem a comunidade mundial da qual fazemos parte, e reuni-las num mesmo lugar: o JM

Graças a mecanismos de pesquisa como os do Google, Youtube,  hoje  o mundo não é de ninguém : é de todos , tal a centralização de  informações, fotos , vídeos , músicas e tudo que o mundo digital nos oferece, num mesmo lugar e a um clique, criando o universo multimídia.

E nesses 360 dias reaprendemos Jornalismo, reescrevemos centenas de noticias, manchetes, chamadas, vinhetas , legendas , de fatos do mundo inteiro, porque vivemos  numa sociedade global, onde a noticia só envelhece, se não for dada a ela aquela “pitada do nosso tempero”, como pregava o escritor Machado de Assis.

E mais: no jornal gutenbergiano ela – a noticia - é fugas, envelhece da noite para o dia. Hoje  uma noticia, um fato, pode ser eternizado , dependendo do uso que fazemos dele, pelo milagre dos blogs e das edições digitais e  em tempo real. O segredo é ser um grande jornalista, mesmo lidando com notícias aparentemente insignificantes. Transformá-las é o nosso mister!

Um toque, uma sílaba, um titulo, uma foto, um vídeo, uma cor, muda tudo: a noticia renasce com outro vigor e pode ser arquivada para sempre. Editar e reeditar uma matéria tem seu segredo na criatividade,  e na nova linguagem do mundo digital, mais pleno de efeitos audiovisuais.

É fácil fazer um simples ” jornalzinho” ,que tem tudo que os grandes tem, menos a  farta conta bancária e uma legião de  bons profissionais? O que é grande ou pequeno no mundo em que vivemos?

Nada é fácil na vida. Tudo exige competência, dedicação, determinismo, perseverança, fé em Deus e em si mesmo, e aquele tino, aquele sexto sentido, que só os jornalistas têm.

E assim trabalhando seis horas por dia chegamos ao primeiro aniversário do JM, hoje não apenas um jornal de municípios, mas um Jornal do Mundo em que vivemos, com mais de 28 mil acessos e 36,900  visitas por pagina, ( estatística do Google), como uma diferença: a liberdade de poder sonhar que a vitória existe para os que acreditam nela.

Costumo dizer que meus filhos estão começando por onde terminei, profissionalmente falando.
Que herança maior pode deixar um pai para seus filhos do que o amor pelo trabalho e os sonhos bons que com perseverança tornamos realidade? 

O JM É MAIS QUE ESSE SONHO. Se tivesse que começar  tudo de novo seria jornalista, escritor ou coisa afim. O melhor dos vinhos não tem esse buquê, nem embriaga como verdadeiro jornalismo.

JOSE MÁRIO LIMA (ORION) – DIRETOR EDITOR RESPONSÁVEL

 Jornal do Municipio - O começo de tudo.
O Patrono perpétuo do JM

O Prefeito Manoel da Silva "encampou" a idéia do JM Jornal do Município e colocou a disposição tudo que foi necessário para que o jornal fosse fundado e iniciasse sua jornada. Dono de um tirocínio inigualável, Manoel da Silva viu com  olhos de "águia" o papel do jornal na defesa de Cachoeiras e  dos municípios. Por i isso lhe conferimos o título de Patrono "perpétuo" do JM.
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Amigos e incentivadores

Pascoal Guida (esquerda)e Luiz Borba ( centro),duas peças fundamentais para o êxito do JM Jornal do Município. Um em Cachoeiras, outro no Rio. Pascoal , no primeiro ano , divulgou o jornal e deu apoio logístico, junto ao prefeito Manoel da Silva e a comunidade cachoeirense. Borba, no Rio de Janeiro, do segundo ano em diante, tomou a frente da diagramação, composição e montagem do JM, sendo o responsável pela circulação do jornal em Cachoeiras de Macacu. Em 1982, parte do jornal era escrito em Maranguape (CE) e parte no Rio. Borba fazia a ponte de ligação.Dois amigos inesquecíveis . Duas almas voltadas para a criação e manutenção do JM Jornal do Município no passado.

Louzeiro o "inspirador" intelectual

O jornalista e escritor José Louzeiro, professor de Jornalismo de José Mario Lima, na Escola de Comunicação da UFRJ. Juntos criaram o JE - Jornal do Escritor, cuja meta era  fundar o Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, fato ocorrido em 1971. Ele ensinou e inspirou a José Mario Lima  a criar o JM Jornal do Município, sendo a peça fundamental na urdidura do futuro jornalista "Mario Lima", como o chamava.

 Ubirajara Muniz, e Leonel Brisola (de saudosa memória ) foram incentivadores do JM Jornal do Município, abrindo as portas para o exito do jornal no Rio de Janeiro. Ao centro o jovem Manoel Fernandes, jornalista que também participou da escalada da vitória do JM..


Da esquerda pra direita, o poeta Pascoal Guida, Luiz Borba, José Mario e no final Ubirajara, à época,1983, diretor do DER-RJ. Amigos inesquecíveis que muito ajudaram ao JM Jornal do Município circular e crescer no Rio de Janeiro.
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GALERIA DE FOTOS 

AMIGOS DO JM JORNAL DO MUNICÍPIO

 

PROFESSOR LAURO VANDAL E O DR. JOÃO DE DEUS,
ETERNOS AMIGOS DO JM

José Mário Pontes Lima
Parabéns por reativar O Jornal do Município editado no Estado do Rio de Janeiro nos anos Setenta - e felicidades para você e os teus familiares.
Em tempo, aquele BLOG criado pelo teu filho Gabriel,  em 2007-08, ainda continua existindo: João de Deus Pinheiro Filho -  tinha até me esquecido dele, pois sou relutante em estar usando os recursos atuais da mídia - pois tudo na vida tem um lado bom e outro ruim. 

O LAUREADO ESCRITOR ASSIS BRASIL TAMBÉM TEVE 
SEU PAPEL IMPORTANTE NA CRIAÇÃO DO JORNAL

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NILMAR MARQUES, UM ELO IMPORTANTE NA
CRIAÇÃO DO JORNAL. AMIGO, IRMÃO
DE FÉ . NA FOTO  COM SUA FILHA THAMARZINHA

AMIGOS PARA SEMPRE !


João de Deus e Paschoal Guida ,recentemente em
Cachoeiras de Macacu - Rio de Janeiro


O escritor José Louseiro Hoje (Passageiro da Agonia; O Pichote)


domingo, 9 de janeiro de 2011


CONFISSÕES DE UM REPÓRTER

“O JUIZ QUE NÃO ERA JUIZ”

Da esquerda pra dirteita: Antonio Campos Neto, 
corretor da bolsa; o repórter Jose Mário Lima
e o Juiz de Menores do Rio, Antonio Campos Neto, 

durante acareação no juizado. (Foto O Globo)


JOSÉ MÁRIO LIMA



Tive a honra de reusar esse título, (Confissões de um Repórter), de uma coluna famosíssima nos anos 50/60, assinada por um dos maiores jornalistas brasileiros de então: David Nasser, nos tempos da Revista “O CRUZEIRO”, dos Diários Associados. Com a morte de David Nascer, até o lançamento do JM Jornal do Município, em 1981, ninguém ousou “usar”  uma coluna com esse nome. 

Motivado por minha experiência nos grandes jornais do Rio, em que trabalhei, como O Globo, Correio da Manhã, Ultima Hora, Tribuna da Imprensa, Diário Popular de São Paulo, ( Sucursal do Rio), entre outros , iniciei uma série de relatos de cunho pessoal, numa coluna com esse título no JM em 1981. Agora com a reedição do JM digital, dou vida, novamente, a “Confissões de um Repórter”, com casos inusitados, que ocorreram durante o meu árduo aprendizado no jornalismo carioca e na minha vida de modo geral..Como pretendo reunir esses relato em um novo livro, estou reeditando o primeiro episódio nesta VI edição do JM digital.


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Comecei meu aprendizado na imprensa carioca, tão logo cheguei ao Rio em janeiro de 1968.Já trazia na bagagem as experiências adquiridas na “terrinha”, mesmo ante de estudar Jornalismo, ainda quando estudante da Faculdade de Letras, em 1965. Assinava a coluna No Mundo Universitário, na saudosa Tribuna do Ceará, de Ciro Colares e Pedro Mallman e José Sancho.

Em 1966 tranquei matricula na Faculdade de Letras e prestei vestibular para o então Curso de Jornalismo da UFC, a menina do olhos da mestra e idealizadora do curso, Adisia Sá. Sendo aprovado, meu entusiasmo pelo jornalismo aumentou. Afinal fizera o vestibular de Letras porque gostava de escrever, sonhava ser um escritor. Qual a decepção quando me vi estudando línguas neolatinas e germânicas e, escrever, nada!

Aquele ano de 1967 não foi dos melhores pára mim. Troquei de jornal e minha coluna foi para o Unitário, matutino dos Diários Associados, o que havia de mais moderno no Ceará, em termo de Jornalismo impresso. No mesmo ano fui convidado pela mestra Adísia Sá para participar de um programa na então TV Ceará Canal 2, como o mesmo nome de minha coluna: No Mundo Universitário.

Esse foi o meu primeiro contato com as câmeras e com o sufoco de um dia , por um motivo que não lembro, ter substituído a professora Adisia, na abertura do programa e na condução do mesmo.

Mas esse mundo de sonhos esta prestes a acabar. As liberdades democráticas foram suprimidas por um golpe militar. O Curso de Jornalismo estava ameaçado de extinção e eu não queria parar minha carreira.

Assim, aproveitando a transferência do saudoso Professor Alcides Pinto para a Escola de Comunicação do Rio de Janeiro, pedi-lhe que levasse minha transferência, também, para a  ECO e segui atrás, num vôo do Correio Aéreo Nacional (CAN), para o Rio de Janeiro., passagem conseguida pelo prestígio do saudoso Dr.Manuelito Eduardo.

Meu sonho era voltar e ser professor no Curso de Jornalismo da UFC, coisa que até tentei em 1986, quando já havia voltado do Rio. Mas, embora tenha sido aprovado, não tive “peso político” para ser escolhido para a única vaga que existia. O mesmo aconteceu no próximo concurso, em 87. Mas essa é outra longa história que um dia espero ainda contar...

No Rio, na Escola de Comunicação conheci dois escritores, por sinal também professores de jornalismo da ECO, que muito me influenciaram e ajudaram: José Louzeiro e Assis Brasil, de quem me tornei amigo.

Assis conseguiu para mim um estágio na Tribuna da Imprensa de Hélio Fernandes, no auge dos atos institucionais, da censura prévia e da guerra de guerrilha que o Rio havia se transformado.

Louzeiro me levou para O Globo e anos mais tarde (1969), segui seus passos: pedi demissão do maior jornal da época e fui com ele me aventurar na criação do JE Jornal do Escritor, com uma ambiciosa meta: fazer um jornal literário com “cara” de jornal “grande” e viajar pelo Brasil, plantando a semente da criação do primeiro sindicato de escritores. Essa passou  a ser a meta do jornal e com muito sacrifício e sofrimentos, conseguimos em 1971 , quando editamos o ultimo número do Jornal do Escritor.

Dali voltei para a “grande imprensa” como era chamada na época: Correio da Manha, Última Hora, free-lance em agências como Trans-Press e um cem números de pequenas revistas especializadas. Lecionei História da Arte no Brasil, e no Mundo, no IBET. Prestei vestibular para o Curso de Pós - Graduação, concorrendo com o corpo de professores da  ECO.Passei e continuei minha vidinha.

 Fui indicado pelo diretor do Eco, para ser o Editor – Responsável do Projeto Radam Brasil, do Ministério das Minas e Energias, onde editei cinco livros multidisciplinares sobre o Levantamento Aerofotogramétrico do Brasil e pelo estudo da marca-símbolo do Projeto. Lecionei Publicidade e Propaganda na Faculdade Helio Alonso e Jornalismo Publicidade na Instituição Teresiana.

Sai do Projeto Radam Brasil e voltei para O Globo. E foi nesta volta a O Globo que a maior “barriga” do jornalismo de então me pegou de surpresa. Era um dia lindo de verão, as praias do Rio fervilhavam de banhistas e eu estava de plantão no sábado  e no domingo pela manhã.

Quando recebi a pauta do dia, o destino havia me premiado ou me posto a prova: chegara uma denúncia no jornal que crianças pescavam com arpão entre os banhistas , na praia de Ipanema. Seguimos para lá no carro de reportágens e não foi difícil ver e fotografar as crianças pescando com arpão.

Voltamos para a redação, escrevi a matéria e no outro dia, a mesma rendera primeira pagina toda ilustrada com fotos. No domingo quando cheguei ao jornal o chefe de reportagem, Renan Miranda, repautou a “suíte” da matéria para mim, com a seguinte orientação: Ouvir o Juiz de Menores do Rio, Dr. Antonio Joaquim Campos Neto.

Descobrir uma autoridade no Rio, num dia de domingo é uma tarefa quase impossível. Mas não me fiz de rogado. Nas agendas do jornal não havia o telefone do Juiz que assumira ao cargo recentemente. O jeito mesmo era recorrer à velha lista telefônica e procurar por Antonio Joaquim Campos Neto.

E assim eu fiz: descobri mais de cem homônimos do Juiz de Menores e comecei a discar para cada um deles:

- Alô... É da casa do Dr. Campos Neto, Juiz e Menores do Rio de Janeiro?

Foram sucessivos nãos! Quando já estava pensando em desistir e pedir ao chefe de reportagem para pautar a matéria para a segunda-feira, alguém atendeu o telefone e me encheu de esperanças:

-É da cada do Dr. Campos Neto, Juiz de Menores do Rio de Janeiro?

- É sim!

-Ele está em casa?

- Esta, disse a voz no outro lado da linha.

- Pergunte-lhe se ele recebe a reportagem de O GLOBO, para falar sobre a pesca com arpoes por menores em Ipanema.

Depois de um breve momento, o rapaz que nos atendeu voltou e disse que ele nos receberia. Confirmamos o endereço e corremos para lá , no bairro do Juá, na época um dos mais chiques do Rio de Janeiro.

Na entrada , quando vi a imensa casa, com cães enormes na vigia, fiquei meio preocupado. Um sexto sentido me dizia que tinha alguma coisa errada ali. Era muita riqueza para ser a casa de um juiz de menores. Mesmo assim, logo Antonio Joaquim Campos Neto veio no atender, de calção de seda azul, com bolinhas brancas estampadas e um copo de wiske na mao:

-Vamos entrando, disse! Ali na piscina ficaremos mais à vontade!

Eu ainda estava meio cismado. Pedi ao fotografo que fizesse fotos em vários anglos e de gravador ligado comecei a entrevista. Dava para notar que o “juiz” já estava um pouco “ligado”, mas lúcido.

- Dr. Campos Neto, perguntei o Senhor tomou conhecimento da pesca com arpões, por adolescentes na praia de Ipanema?

 E ele:

- Tomei sim! Isso é um absurdo! Temos que tomar uma providência, fazer alguma coisa para evitar esse abuso. E se alguém for ferido?

E voltei a fustigá-lo:

O Senhor, digo melhor, o Juizado de Menores vai tomar alguma providência para conter esse tipo de pesca, realizada por crianças?

-Vamos Sim! Respondeu e reafirmou: o Juizado vai tomar uma providência drástica na segunda-feira.

- Como o Sr, pretende agir, já que se trata de crianças?

 E ele:

Os pais têm que ser notificados, os arpões apreendidos.

Aí insisti:

-Quer dizer que o Juizado de Menores, digo o Sr. Dr. Campos Neto, vai tomar uma providência urgente, não é?

-Isso mesmo, amanhã bem cedo o Juizado vai tomar uma providencia para coibir esse abuso.

Ainda estava desconfiado. Mas como conseguira a entrevista, agradecemos e rumamos para a redação.

-Conseguiu? Perguntou Renan, o chefe de reportagens.

- Consegui.

Comecei a tirar a gravação da fita. Naquela época os repórteres de jornais no Rio não usavam gravadores. Todo mundo tinha o seu bloquinho de papel e anotava tudo e memorizava a respostas. Só os repórteres da Radio Globo, cujos estúdios ficavam um andar acima da redação do GLOBO, na Rua Irineu Marinho, usavam a "maquininha".

Isso me rendeu o apelido de “eletrônico”, pois nas coletivas ou no dia-a-dia, lá estava eu como meu velho gravador, do mesmo jeito que vira um dia numa revista Seleções: o repórter com o seu gravador na mão.

Retirar uma matéria de uma fita Kassete, naquela época, não era só sacal. Exigia concentração e certa técnica, pois em cima da fala do entrevistado tínhamos que improvisar para sintetizar a matéria. Nesse dia, acho que meu anjo me deu uma paciência enorme. Já eram mais de três horas quando terminei de retirar a matéria da fita. Entreguei os originais ao Chefe de Reportagens e já estava na minha hora. Fui almoçar e rumei para casa.

No outro dia, bem cedo, antes de ir para o jornal, passei numa banca e pedi para ver a edição de O GLOBO. Não dera outra: manchete de primeira página e a foto de Antonio Joaquim Campos Neto com seu short azul com bolinhas brancas e com de wiske na mão: JUIZ DE MENORES VAI ACABAR COM A PESCA DE ARPÃO EM IPANEMA.

Rumei para a redação. Já no elevador me deram a notícia:

- Você está despedido, se previna!

- Por quê? Indaguei?

Você entrevistou um homem que não é o Juiz de Menores.

O frio bateu na “barriga”. Fiquei palito, o sangue sumiu. Mas com calma me dirigi para a mesa da chefia, onde Renan já me aguardava de dedo em riste:

- Você cometeu a maior “barriga” da imprensa carioca. Entrevistou um homem que não é o juiz de Menores.

Ai o jeito era apelar para a gravação. A redação de O Globo, que naquela época já era um salão enorme, com todas as editorias lá acomodadas, ficou em silencio, para ouvir a fita. E os grupinhos, atentos passaram a ouvir a entrevista.

Conclusão: Antonio Joaquim Campos Neto era um homônimo doDoutor, Antonio Joaquim Campos Neto, Juiz de Menores do Rio de Janeiro, que acabara de assumir o cargo.

Até experientes editores de O Globo foram pegos de surpresa por este fato : ninguém conhecia ainda, realmente, o verdadeiro juiz. E a conclusão foi que o homônimo, por brincadeira ou não, se assumiu como se fosse o verdadeiro Juiz.

Escapei de ser demitido e ainda ganhei a terceira “suíte”: fazer a matéria com o Dr. Campos Neto (o verdadeiro) e estar presente na acareação realizada no Juizado de Menores, entre o verdadeiro Juiz e o impostor, que, na verdade, era um corretor da Bolsa de Valores.

Na acareação o corretor da Bolsa, Campos Neto pediu desculpas ao Magistrado Campos Neto. Seu advogado convenceu o Juiz de Menores que seu cliente não “agira de má fé” e ficou o dito pelo não dito. Coisa que só acontece nos bastidores do poder.

Nessa época passei a ser um folclore vivo na redação de O GLOBO, de onde um dia novamente pedi demissão, (1979) para ir morar num sitio Itaboraí, onde fui criar gado, galinhas, viver livre dos grandes centros.

Na época José Louzeiro escreveu um artigo enaltecendo minha coragem. “Não é todo mundo que tem coragem de renunciar a um grande jornal e a tantas regalias, da cidade grande, para viver uma vida simples”. Mas o destino já estava escrito e nas asas do JM Jornal do Município, voltei para o meu único vicio: o jornalismo e a arte de escrever.

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CONFISSÕES DE UM REPÓRTER

 UM BANHO DE LAMA NA
 LAGOA RODRIGO DE FREITAS



JOSÉ MÁRIO LIMA


Vida de repórter não é nada fácil. E em se tratando de uma grande cidade, como o Rio de Janeiro e, quando o jornal é O Globo, o maior jornal do país, a responsabilidade crescia, e as exigências também.

Saímos para cobrir um evento, pauta na mão, e éramos seguidos pelo serviço de rádio, uma maneira não só de dar a nossa posição à redação, como também de controlar o tempo e o percurso que gastávamos para realizar determinado trabalho.

Apesar de ter passado por vários setores, na cobertura da cidade, praticamente me especializei em “Meio Ambiente”, sendo o repórter destacado para cobrir a Fundação Estadual (FEEMA).

Na gestão do então presidente da Feema, Haroldo Mattos de Lemos, tive a oportunidade de escrever boas reportagens sobre a poluição na Baia de Guanabara, o e os estudos de controle, pelo órgão, da emissão de gases poluentes na cidade e combate aos roedores, (ratazanas que infestavam o Rio), e que tanto males causaram à humanidade, com a disseminação da peste negra, que matou milhares de pessoas na Europa, no final do Século XVIII, início do Século XIX.

Haroldo Mattos de Lemos me chamava de “O eletrônico”, pelo fato de todas as minhas entrevistas serem gravadas. No jornalismo diário essa foi uma época feliz, pois muito me identificava com a luta dos ambientalistas contra a poluição do ar, da terra, rios, lagoas, mares, fato já alarmante por volta de 1979.

A Organização Mundial da Saúde e a ONU davam seus primeiros alertas para aquilo que e tornou, hoje, uma ameaça gritante contra a vida no planeta Terra. Nessa época não  ouvíamos falar de efeito estufa. Mas de inversão térmica, sim ! Não se  conhecia ainda a dimensão dos gases poluentes na atmosfera do planeta, nem se tinha dados tão precisos sobre o “buraco de ozônio, o degelo das calotas polares, ou a possível invasão das cidades litorâneas pelo oceano.

Como  repórter de meio ambiente, recebi um dos maiores “prêmios” daquela época , para um jornalista iniciante: ter uma matéria assinada na primeira página de O Globo, com  a reportagem especial sobre o desmatamento na reserva florestal de Maria Madalena, que fizemos na terra de Dercy Gonçalves.

Para se ter idéia de como isso era cobiçado,  e importante, basta dizer que só Nelson Rodrigues, Roberto Marinho, Esdras Nascimento e outro figuraços, tinham o privilégio de assinar matérias na primeira página do jornal.

Esse fato gerou muitos “buchichos” e daí para frente vimos outros repórteres, como Marcelo Pontes, Belissa Ribeiro, Domingo Meireles, entre outros, começarem, também, a assinar suas reportagens. O Globo se democratizou, a partir de então, dando essa valorização ao trabalho dos seus bons profissionais “jovens”.

Meio ambiente me rendeu outras boas matérias assinadas, como a campanha contra os ratos, a despoluição da Baia de Guanabara, e até mesmo a história de uma orquídea, raríssima: a Acacallis Cianeya Lindle, “a orquídea que valia um Rolls Royce,  mas desta feita, no segundo caderno, editado pelo saudoso Fuad Atalla.

Tornei-me com o tempo um especialista em meio ambiente e dos setores que cobri em O Globo, como policia, radio escuta para pauta, reportagem geral, esportes amadores, delegacia de entorpecentes e reportagens especiais, como a sobre a Reserva de Maria Madalena, devastada por carvoeiros  e, sobre Rosalino, um menino paranormal, - foi cobrindo meio ambiente onde mais me destaquei.
Um dia numa dessas coberturas rotineiras, tomei um grande susto e quase morri afogado.

Fomos designados para fazer uma matéria sobre a mortandade de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cartões postais do Rio. Já vínhamos acompanho o caso há uma semana e eram milhares de peixe mortos, o que causava uma terrível fedentina no bairro do Leblon.

A FEEMA, um órgão do governo do Estado tinha um projeto para desassoreamento das margens da lagoa e do canal que a ligava ao oceano. Assim saímos da redação, - repórter e fotografo (Filò) para cobrir a dragagem do canal da lagoa. Já havíamos rodeado toda a extensão da Lagoa Rodrigo de Freitas, mas a draga estava do outro lado, próximo ao Jóquei Club e resolvemos ir até lá.

Descemos e o sol já começa a se por. Começamos a caminhada a pé até próximo da draga onde Filó poderia fazer uma foto mais expressiva. Saímos margeando a lagoa. A sorte é que como não ia entrevistar ninguém, deixei meu gravador no carro de reportágens. Assim segui e o Filó dizia:

-Cuidado, Mario Lima! Você está muito próximo da borda da lagoa!

 Repórter afoito, querendo sentir de perto como ficaria a obra, continuei. De repente comecei a afundar no lodo. Quanto mais me mexia mais afundava e a noite já estava chegando. Procurei me agarrar em cipós e galhos de mato, mas já estava coberto de lama até pescoço, isso com o peso do paletó gravata e sapatos, encharcados.

Foi à presença de espírito do fotografo Filó que me salvou. Começou a gritar para o motorista do nosso carro de reportagem e ambos, mais que depressa , conseguiram em agarrar pelos cabelos e me puxaram para fora.

Nessas horas de grande perigo não sentimos nada. Não avaliamos o que passamos realmente. Estava coberto de lama do pescoço aos pés e de um cheio fétido, insuportável.

Quando o susto passou demos bom risadas e rumamos para a redação do Globo. Como morava na Zona Sul do Rio, em Botafogo, antes passei por meu apartamento tomei um banho e troquei de roupa.

A essas alturas toda redação de O Globo já sabia do ocorrido, porque o motorista comunicou tudo pelo rádio. Quando entrei na redação para escrever a matéria, a gozação foi geral.

Todos queriam saber como tinha escapado de morrer na Lagoa Rodrigo de Freitas e fui logo aconselhado a procurar o serviço medico do jornal, para evitar possíveis males, advindos da lama mais podre do Rio de Janeiro.

Daquele dia em diante minha fama aumentou no jornal, “como o repórter que foi ver bem de perto a podridão da Lagoa Rodrigo de Freitas e quase nela morreu. Mesmo que quisesse não poderia esquecer jamais aquele banho de lama na lagoa.

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domingo, 30 de janeiro de 2011

CONFISSÕES DE UM REPÓRTER
Ironnia? Mendigo conversa com estátua de Carlos Drummond de Andrade
                                O poeta João Cabral de Melo Neto
                   
COMO ENTREVISTEI CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


                         José Mário Lima


Corriam os anos de repressão política e nós na nossa vidinha de repórter, no Rio, um centro em ebulição das forças de reação a ditadura militar. Em 1969 voltei para O Globo, como repórter e acumulava a mesma função no JE – Jornal do Escritor, que ajudei fundar com o escritor e jornalista Jose Louzeiro.

Nessa época entrevistamos romancistas, contistas, poetas de todas as tendências e viajamos muito pelo Brasil. Numa série sobre as “vanguardas brasileiras” fizemos uma entrevista com o poeta João Cabral de Melo Neto e ele foi categórico ao afirmar:

-Sou mais famoso que Drummond!.

O Jornal do Escritor abriu manchete de primeira página, afinal João Cabral tinha uma espécie de rivalidade, com o consagrado Carlos Drumond de Andrade.
Daí em diante passei a tentar entrevistar Drummond. Mas o poeta não dava entrevista pra ninguém, naquela época.

Em 1969 Drummond largou o Correio da Manhã e passou a escrever suas Crônicas no Jornal do Brasil. Ai é que o poeta de Itabira ficou difícil, intransigente, a respeito de entrevistas.

Em 1970 , não lembro o mês, Carlos Drummond de Andrade publicou um novo livro de poemas (Caminhos de João Brandão, pela Editora Jose Olympio), e a imprensa inteira divulgou a noite de autógrafos, numa livraria do centro do Rio.

Lá fui eu designado pelo Globo para cobrir o lançamento. Ai não tive duvidas , encostei o microfone de meu gravador próximo a Drummond,, enquanto ele autografava os livros. O poeta era tão sisudo que dava medo e não respondia nenhuma das minhas perguntas. Fingia não ouvir e, para não ser indelicado aqui, ali, monossilava uma palavra, para responder as minhas insistentes perguntas.

- Poeta qual a importância desse novo livro, em relação a sua obra l iteraria?

- Poeta quais são seus projetos literários daqui para frente? Está escrevendo algo novo que queira mencionar?

E Drummond respondia, ora sim, ora não, mas sem entrar em detalhes. Torrei o saco do entrevistado, ele não podia nem pensar, pois estava ali no seu encalço, como um carrapato grudado em sua pele.

A certas alturas, indaguei:

-Que acha da afirmativa de João Cabral de Melo Neto, que disse ao Jornal do Escritor que é mais famoso do que o Sr.?

Foi a única fez que Carlos Drumond de Andrade perdeu a sisudez e a frieza.

- Cabral, mais famoso do que eu? Isso é brincadeira! Sou mais famoso do que ele.

E saiu de mansinho, tentando escapar no meio das pessoas que participavam do coquetel de lançamento.

Confesso: o que eu tinha gravado era  quase nada, diante do que ele ,  o laureado poeta de “Uma pedra no meio do Caminho”, “Seleta em Prosa e verso”, poderia ter dito se tivesse um pouco de boa vontade, não fosse tão arredio aos repórteres , apesar de muito vaidoso.

Como os “sins e nãos”, com as palavras sincopadas do Poeta Maior da época, montei uma matéria de uma lauda para O Globo. E se não me falha a memória, pois já se passaram mais de 40 anos, tinha um titulo mais ou menos assim:

"Drumond diz que é mais famoso que João Cabral". 

Não deu outra. A matéria  como de praxe, foi reescrita pelos copy deskes de O Globo, e no outro dia estava na primeira página do Maior Jornal do País, de então.

No Jornal do Escritor minha matéria foi publicada na integra, sem cortes, pois José Louzeiro gostava da poesia de Drummond, mas não ia muito com o seu jeito mineiro, sisudo e impopular. Para ele, Louzeiro tinha uma frase especial:

- Drummond é um filho da p...!

E não o entendi até essa semana, quando estive com um  outro companheiro da mesma época, e quando recordamos nossas sofridas vidas nos tempos da ditadura.

João de Deus Pinheiro Filho, hoje PHD em Física Nuclear, professor da Universidade Fluminense aposentado e membro da Cnen, me explicou o verdadeiro significado do termo:

- O mau caráter existe em toda sociedade e é ate aceitável! Mas o Filho da P.... esse deveria morrer e ir logo direto para o inferno.

E explicou:

- É que o Filho da P.... Não se conforma em te prejudicar. Ele quer te lascar mesmo, te fazer o mau!

Ai entendi a posição de Carlos Drummond de Andrade e sua reação "punitiva",por  ter sido o primeiro repórter a entrevista-lo, “desvirginando” para sempre nas letras diárias de um jornal, o autor premiado das Letras Nacionais. E ele não podia me desmentir. Estava tudo bem gravado! Daí para frente Drummond passou a dar entrevista a qualquer jornalista que o procurasse.

No dia seguinte , a publicação de minha matéria em O Globo,( que gostaria muito de reavê-la nos arquivos daquele periódico),- Carlos Drumond de Andrade tentou me desmoralizar em sua coluna do Jornal do Brasil.

Narrou  que durante o lançamento de seu livro um reportezinho lhe fizera a seguinte pergunta:

- Poeta quando publicará seu próximo romance?

Essa foi à maneira irônica que achou para me punir, afinal ele era Carlos Drummond de Andrade e eu um simples repórter "C" de O Globo. Quem acreditaria em mim, embora soubéssemos que Drummond nunca escreveu romances, só poemas, crônicas e contos?

José Louzeiro, Assis Brasil e muitos outros escritores acreditaram. Por isso meu esforço hercúleo foi editado na íntegra no Jornal do Escritor.

 João Cabral de Melo Neto, então embaixador do Brasil em Barcelona, dono da cadeira numero 6 da Academia Brasileira de Letras, autor de inúmeros livros premiados, entre os quais "Morte e Vida Severina", deve ter dado boas risadas, quando tomou conhecimento da polêmica e com a hostilidade do sensível poeta de "Boi Tempo".

Ele mesmo nos diz em Vida e Morte Severina:


"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:

vê-la desfiar seu fio,

que também se chama vida,

ver a fábrica que ela mesma,

teimosamente, se fabrica,

vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."

(Morte e Vida Severina)

E Carlos Drummond de Andrade passou em nossas vidas como todas as coisas passam, menos nas lembranças e nos seus lindos poemas que sempre mostraram que o homem é um, e o artista é outro, como bem mostra seu poema:
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CONFISSÕES DE UM REPÓRTER


O DIA EM QUE EDSON LUIS FOI 


MORTO



            
                       JOSE MÁRIO LIMA


Não fazia um mês que havia me transferido para a Escola de Comunicação do Rio de Janeiro, em março de 1968. Estagiário da Tribuna da Imprensa fui designado para cobrir os piquetes de resistência dos estudantes, no Calabouço.


O Calabouço há muito se tornara um centro de resistência estudantil ao regime ditatorial de então, desde os tempos da demolição do antigo restaurante em 67 e da construção de um galpão, onde passou a funcionar o novo restaurante, na Praça Ana Amélia, próximo ao Museu de Arte Moderna. A comida do restaurante era péssima, apesar de custar só 50 centavos de cruzeiro., mas era o que tínhamos até a ditadura fecha-lo de vez.


Havia no meio estudantil uma preocupação permanente, em defender o Calabouço, o último reduto de resistência ao regime militar. Por isso, uma vigília permanente, na área externa do restaurante, era feita pelos estudantes.


Mas naquela manhã do dia 28 de março de 1968, ninguém poderia supor que o restaurante seria palco de tantas violências e arbitrariedades, quando uma tropa da PM, sob o comando do Exército invadiu o Calabouço sob rajadas de metralhadoras.


Como repórter sempre fui muito prudente e guiado por um fotografo experiente da Tribuna,era sempre aconselhado a fazer a cobertura a uma certa distancia, sempre escondido por traz de colunas de edifícios ou árvores. Desci da Tribuna a pé no rumo do Calabouço, que ficava próximo ao Aeroporto , há algumas quadras do Passeio Público e da famosa Cinelândia.


No Passeio Público já sentíamos o cheiro forte das bombas de gás lacrimogêneo e o centro do Rio estava transformado em praça de guerra. Os estudantes, divididos em pequenos grupos corriam de um lado para outro, ora no sentido do prédio do Ministério da Educação ora nas ruelas próximas ao restaurante.


O cordão de isolamento feito pela PM havia entrincheirado os estudantes em frente ao MEC, enquanto outro grupo defendia com mãos desarmadas, a frente do restaurante do Calabouço. E naquele corre-corre sem fim, ora num sentido hora noutro, os camburões da policia se aproximavam e os estudantes presos eram jogados como animais dentro de um cubículo.


Nas calçadas próximas aquela "praça de guerra" a multidão observava inerte. Nós , repórteres de rua, logo aprendemos como neutralizar os efeitos do gás lacrimogêneo: molhávamos os lenços em água e tapávamos a respiração, enquanto  umedecíamos os olhos em fogo.


De repente ouvimos rajadas de metralhadora vindas do lado do restaurante do calabouço e procuramos nos aproximar ao máximo para registramos os fatos. Um grupo pequeno de estudantes se aproximou e trazia um jovem ferido, correndo no sentido da Avenida Rio Branco.


Cheguei bem perto e vi que o jovem estava morto. Nunca esqueci aquele olhar vazio, distante, e aquele filete de sangue correndo de um único ferimento de bala na altura do coração. A expressão do jovem lembrava a de Che Guevara, também morto por defender a liberdade , contra a tirania de regimes que escravizavam os menos favorecidos.


O cortejo seguiu rumo a Câmara dos Deputados do Rio e os policiais nada fizeram para impedi-los. Agora a luta pela volta do regime democrático tinha seu mártir público, porque naquele mesmo dia outros estudantes foram mortos e seus nomes nunca foram conhecidos , com pouquíssimas excessões. Os camburões saíram da praça de guerra lotados de estudantes feridos, jogados como gado sem dono, atirados uns sobre os outros.


A confusão se generalizou quando as lideranças políticas estudantis, agora entrincheirados na Camara Municipal, se revezavam em comícios, aos gritos de “abaixo a ditadura”. Vladimir Palmeiras era um dos mais veementes, mas a polícia continuava cercando a praça principal da Cinelândia na tentava dissolver os piquetes, com cassetetes em punho, sabres, bombas de gás lacrimogêneo e rajadas de metralhadoras.


As essas alturas, a confusão era tanta que o fotógrafo da Tribuna sumiu e eu fiquei ingenuamente no meio do fogo cruzado, em frente à Camara dos Deputados. Num ato providencial, pois estava perplexo e sem reações, ouvi um grito e um puxão na aba do paletó:


- Se abaixa Mario Lima! Aqui Mario Lima!


Senti-me arrastado para trás da mureta de proteção da Camara dos Deputados, enquanto as balas ricocheteavam nos pilares do prédio. O meu "anjo salvador" foi um repórter fotográfico que conheci ainda no Correio do Ceará, dos Diários Associados: Vieira Queiróz, naquela época, no Rio, trabalhando para a Revista Manchete.


O saldo de baixas daquele dia fatídico, nunca foi divulgado totalmente, até porque o regime não permitia. Sabemos que alguns repórteres saíram feridos com estilhaços de bala nas pernas e que muitos estudantes morreram. Alguns noticiados em registro policial. Mas a verdade mesmo é que muitas maquinas fotográficas foram quebradas, repórteres e estudantes presos. E Edson Luiz, o estudante paraense, transformou-se num mártir da Liberdade.


Sua necropsia foi feita no próprio local do velório, a Camara dos Deputados do Rio, pelos Drs. Nilo Ramos de Assis e Ivan Nogueira Bastos, na presença do Secretário de Saúde do Estado. Seu óbito de n. 16.982 teve como declarante o estudante Mário Peixoto de Souza. O corpo carregado por milhares de estudantes, até o Cemitério São João Batista, numa passeata que parou o centro do Rio.  


Hoje sabemos que Edson Luiz Lima Souto, nasceu no dia 24 de fevereiro de 1950, em Belém, no Pará. Filho de Maria de Belém de Lima Souto era de família muito pobre e começou seus estudos primários na Escola Estadual Augusto Meira, em sua cidade natal.


Mudou-se para o Rio de Janeiro e prosseguiu seus estudos secundários no Instituto Cooperativo de Cooperativo de Ensino, que funcionava no tradicional restaurante carioca Calabouço. Edson foi assassinado a queima roupa durante a repressão policial da ditadura utilizada para desalojar os estudantes que haviam ocupado o Calabouço no dia 28 de março de 1968.


O registro de Ocorrência n. 917, da 3ª DP informou que, no tiroteio ocorrido no Restaurante Calabouço, outras seis pessoas ficaram feridas, sendo atendidas no Hospital Souza Aguiar.


Foram elas: Telmo Matos Henriques, Benedito Frazão Dutra (que veio a falecer, logo depois), Antônio Inácio de Paulo, Walmir Gilberto Bittencourt, Olavo de Souza Nascimento e Francisco Dias Pinto.
 Outras três pessoas, segundo a policia, saíram feridas na Praça Floriano, (Cinelândia), durante o velório de Edson Luiz, realizado na Assembléia Legislativa, são elas: Jouber Valan, João Silva Costa e Henrique Rego Carnel, também atendidos no Hospital Souza Aguiar.


Isso o que se soube através do registro da ocorrência. Mas para nós, que cobrimos a matéria in loco, o número de corpos atirados inertes, dentro dos camburões da policia militar foi bem maior.


O estudante Edson Luiz Lima Souto foi homenageado, 40 anos depois de tudo, na praça Ana Amélia, centro do Rio de Janeiro, onde existe uma escultura em sua homenagem.


O evento foi o resultado de uma parceria entre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Prefeitura do Rio de Janeiro, União Nacional dos Estudantes (UNE), e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). A da mãe de Edson Luis, Maria de Belém Souto Rocha, também esteve presente na inauguração do busto em homenagem ao filho assassinado.
Assim se passaram 40 anos e não conseguimos esquecer aquele triste dia no Rio de Janeiro!

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CONFISSÕES DE UM REPÓRTER




Carlos Lacerda, fundador em 1949
 e proprietário do jornal Tribuna da Imprensa. Ferrenho oposistor de Getúlio Vargas, foi deputado federal pela UDN e governador do extinto estado da Guanabara.Posteriormente vendeu a Tribuna, ao jornalista Hélio Fernandes (à direita).



GRÁFICA EMPASTELADA, 

CENSOR DE PLANTÃO





José Mário Lima
   
Foram anos difíceis aqueles, a partir de janeiro de 1968, quando cheguei ao Rio de Janeiro, para continuar o curso de Jornalismo, na Escola de Comunicação da UFRJ. Nunca havia saído de casa para passar mais que um final de semana fora, e agora estava ali, na cidade grande, perdido na multidão, em meio a uma fase crítica da Historia do Brasil, respirando ao ar da guerra-de-guerrilha que inundou a cidade.

Agora a realidade era outra: morava na Casa de Estudantes Universitários, na Lapa e minha vida ficou assim girando em volta do centro do Rio. A faculdade ficava na Praça da República, próxima a Central do Brasil e meu primeiro jornal, na Rua Riachuelo, um endereço famoso pelas vezes em que a policia invadiu a sede da Tribuna da Imprensa, ora para prender Hélio Fernandes, ora para empastelar as máquinas da gráfica do jornal.

A Tribuna, que Helio comprou de Carlos Lacerda, tinha um estigma: ser continuamente perseguida pela ditadura militar, porque ali para eles era foco de subversivos.

Helio Fernandes não pensava assim: defendia a democracia e a liberdade de expressão e por isso muitas vezes dormiu nos xadrezes do famoso DOPS  ou na Ilha Grande, para onde foi mandado certa vez.

E foi ali, naquele foco de resistência democrática que o destino quis me colocar. A Escola de Comunicação vivia mergulhada no medo, alunos eram perseguidos e presos, mas tudo funcionava como se nada de mais grave existisse. Minha primeira iniciativa na escola, tão logo conheci os professores, foi tentar conseguir um estagio num jornal.

O escritor Assis Brasil, era professor de Jornalismo da ECO e logo fiz amizade com ele e com Jose Louzeiro, dois nordestinos, que como eu tinham feito a mesma opção: deixar a terra natal para tentar a vida na cidade grande, no Rio de Janeiro.

Assis Brasil mandou falar em seu nome, com Wilson Correia, chefe de reportagem da Tribuna, mais conhecido como “Bagrinho”. E assim eu fiz. Procurei Bagrinho e me apresentei. Ele sorridente me perguntou:

- Quando quer começar?

-Agora, disse destemido!

E ele:

-Então vá cobrir uma reunião que esta acontecendo na Sede do Sindicato dos Bancários, lá na Avenida Rio Branco.

Bagrinho, um tipo alegre, magro, esquelético mesmo, que vez por outra descia da redação e ia molhar o bico no bar da esquina. Dava pra ver que ele estava sempre sóbrio, com um cigarro na boca.

Sai da redação e desci a pé rumo a Avenida Rio Branco e na pressa não perguntei nem qual era o número do prédio onde funcionava o sindicato. Na esquina do Largo da Carioca, desci mais uma quadra e fiquei pensando:

- Como vou encontrar o sindicato?

A Avenida Rio Branco começa na Praça Mauá, atravessa a Avenida Presidente Getúlio Vargas e segue até a Cinelândia e Passeio Público. Nessa hora usei uma aliada que sempre me guiou em momentos difíceis: a intuição.

Olhei para baixo, só a multidão. Olhei para cima e vi que a multidão tinha tomado uma parte do asfalto. Só pode ser ali, pensei. Desci alguns quarteirões e lá estava o piquete dos bancários montado, na esquina da Rua Sete de Setembro.

Fiquei feliz. Entrevistei o presidente do Sindicato dos Bancários e voltei a pé a redação para redigir a matéria. Lá encontrei com Assis Brasil que era copy-desk da Tribuna. Fiquei por ali tomando pé de tudo, e conversando com o mestre.
Quando o jornal fechou a edição Assis me convidou para jantar, mas eu não tinha uma só moeda no bolso. Fui sincero:

- Professor estou sem dinheiro!

E ele:

-Eu estou convidando e deixe tudo por minha conta!

Aquela situação me deixou um pouco embaraçado, pois almoçávamos o restaurante do Calabouço ou do Caco, este, na Faculdade de Direito. Só que o restaurante fechava a 19 horas. Entrava na Faculdade às 7 horas e largava ao meio dia. Na Tribuna meu horário era das 14 às 19 horas.

Meu estágio na Tribuna da Imprensa começou com o é direito. No outro dia a matéria do sindicato dos bancários e a greve anunciada deram primeira página. E assim continuei na Tribuna, que não pagava nada aos estagiários,mas nos dava apenas um vale almoço, na cantina do Jornal.

Conheci na Tribuna grande repórteres, famosos mesmos, como Luiz Carlos Sarmento e sua mulher Sandra, Pedro Porfírio, Tim Lopes, nessa época (foca) estava se iniciando no jornalismo. Fiz amizade com outro nordestino do “coração de ouro”, Jorge França, pernambucano que trouxera a mãe e os irmãos para morar no Méier, Subúrbio da Central do Brasil, e que sempre me convidava para nos finais de semana ir almoçar na casa dele, já que eu não tinha parentes no Rio.

Luciano Calegari era outro protegido do Jorge. Calegari era diagramador e fora preso com Pedro Porfírio, por pertencer ao MR-8 e sofreram todo tipo de torturas.

Pedro Porfírio apanhou tanto que terminou entregando o grupo. Também com os dentes todos quebrados, e submetido a sessões de “pau-de-arara”, quem não confessaria?

Evandro Diniz, o editor internacional morria de medo de ser preso. Uma vez o substitui durante suas férias, e no aniversário da explosão das bombas atômicas em Hiroxima e Nagasaki, fiz uma diagramação ousada pra época: uma montagem de bombas caindo do céu!

Evandro no outro dia ligou pra mim e disse:

- Você está louco? Quer que eu seja preso?

Na época o Pasquim, e a maioria da imprensa fazia o mesmo. Usava as “entrelinhas” para dizer o que não se podia, na época da ditadura. Era uma situação bastante incomoda e a insegurança fazia parte do nosso dia-a-dia.

Hélio Fernandes mesmo preso dava um jeito de escrever sua famosa coluna denunciando os abusos da ditadura e sua fiel escudela era uma mulher: D Nice, que respondia pelo jornal e mantinha a parte burocrática funcionando.

Não conformados com sua resistência pacífica, um dia o Dops invadiu a gráfica do jornal e quebrou tudo. “Empastelou” toda tipografia, quebrou linotipos, num ato de barbárie medieval.

Mas o jornal no outro foi às bancas e denunciou a arbitrariedade. As matérias foram compostas na gráfica de O Dia e a Notícia. Com o arrocho do AI-5 e como não conseguiam parar a Tribuna da Imprensa, nem calar Hélio Fernandes, conhecemos nas redações de alguns jornais, a figura do censor. E a Tribuna veio em primeiro lugar.

Era patético mesmo, mas aconteceu: tudo que era escrito no jornal, antes de ir para a mão do editor, passava pela mão do censor, que ficava ali sentado, sisudo, esperando os textos. O seu poder de veto era total. Só o que ele aprovava podia ser publicado.

A Tribuna da Imprensa era considerado um jornal pequeno, no Rio de então, mas com uma história de fazer inveja nos meios políticos nacionais. Pertencera ao hábil político, ex-governador do Rio e fundador da UDN, Carlos Lacerda , que a vendeu a Helio Fernandes, a despeito de tudo que inventavam a seu respeito, manteve o jornal durante toda ditadura, circulando, mesmo com cerrada perseguição.

Um dia aconteceu um fato engraçadíssimo, que virou folclore na imprensa carioca. Na Tribuna havia um continuo de nome Napoleão. Lá Wilson Bagrinho apelidava todo mundo e Napoleão virou, simplesmente, “Napô”.

 Era Napô pra aqui Napô pra acolá. Napô, malandro dos morros cariocas, tinha um gingado especial ao andar: parecia um mordomo inglês, mas com a fleugma carioca, cheios de piadas e gozações, com tudo e com todos.

E numa noite dessas de muita tensão, com Hélio Fernandes na Ilha Grande, Mauro era o editor substituto. Napõ cismou de fazer um gracejo com o censor de plantão. Apanhou uma pilha de matérias em cada editoria e colocou na mesa do censor. Quando o tal pegou a caneta e começou a “cortar” o texto, Napô chegou de mansinho, por trás dele e disse:

- Censurando, Himm?

O homem deu um muro na mesa e foi papel pra todo lado. O fato foi tão hilário que a redação em peso deu uma gargalhada. Ai foram horas e horas de negociação do Mauro com o censor, que queria a cabeça do Napoleão. Chegou a chamar o Dops para prendê-lo. Com muito custo foi convencido que o  “bom criolo” era dado a esses “chistes” e que não fizera aquilo por mal.

Assim comecei minha vida de repórter no Rio. Dois anos depois José Louzeiro me indicou para repórter de O GLOBO e lá permaneci até pedir demissão, juntamente com ele, para fundamos um jornal de escritores, com cara de jornal de cidade grande e com a missão de criarmos o Sindicato dos Escritores do Rio.

Viajamos o Brasil levando essa idéia. Em cada congresso literário lá estávamos na primeira fila com a nossa bandeira na mão: O Sindicato dos Escritores. Ouvimos escritores consagrados e as vanguardas das letras. Foi um tempo bom, onde sublimamos a dor e a perseguição política, em meio aos arroubos da Literatura Nacional. Era mais fácil protestar ou falar através de poemas concretos ou de personagens.

Naquela época, por volta de 1970, vimos Edson Luiz ser trucidado nas ruas da Cinelândia e quase morremos metralhado em frente à Câmara Municipal do Rio, na praça de guerra que o Rio se transformara. Agora no Jornal do Escritor, víamos tudo do alto da Rua Senador Dantas, na Cinelândia, e nosso enfoque era outro.

 Eu era tão inexperiente que pedi demissão de O Globo para viver uma linda aventura. Mas vencemos e dela não me arrependo, porque em 1971 o jornal acabou, mas o Sindicato dos Escritores dó Rio de Janeiro foi fundado. Voltei a O Globo anos depois, mas essa é outra história.

Quem somos

JM JORNAL DO MUNICÍPIO - JM JORNAL DO MUNDO - Orgão Sócio-Cultural de Utilidade Pública em Defesa da Cidadania nos bairros e municípios brasileiros. Diretor–Editor–Responsável:José Mário Lima. Reg. Prof.12418 DRT-RIO. Secretário Geral – Gabriel Pontes.Designer Gráfico- Alice Farias Lima.Layout e Criação – Gabriel Pontes. Secretário de Edição: José Mário Lima.COLABORADORES: Colunistas :Celina Côrte Pinheiro,Nilmar Marques (Cap.Nil), Orion Lima, Santos Sá,Henrique Soares,Assis Brasil; JM Reportágens: (Equipe)Henrique Soares,Gabriel Pontes e Santos Sá; -JM Cultura:(Equipe)- Publicidade (JML) - Movimento Estudantil: Gabriel Pontes. JM Esportes: (equipe)- JM Literatura: Assis Brasil. Notícias dos Bairros: Henrique Soares,Amil Castro; Sociedade-artesanatos: Martha Lima.Culinária : Lili(Faraó-Cacoeiras-RJ). Correspondentes: Redenção: Nice Farias;Irauçuba: Swami Nitamo;Teresina e Parnaíba: Assis Brasil;Estado do Rio de Janeiro (interior): Nilmar Marques - Cachoeiras de Macacu: Paschoal Guida. Rio,(Capital): João de Deus Pinheiro Filho. *As opiniões emitidas em artigos assinados são da inteira responsabilidade de seus autores.