No Brasil não existe ainda um terceiro turno , mas mesmo assim um punhado de "gatos pingados" quer mudar a regra do jogo democrático, induzindo através das redes sociais o descontentamento por uma crise que não começou ontem e que tem raízes fincadas na própria história política do país há décadas. Perderam as eleições de 2014 e não se conformam.Através dessa reportagem da BBC do Brasil, que o JM transcreve, fica mais fácil entender a ação desses
novos grupos que se dizem apolíticos mas
que estão pedindo em campanha
sistemática através das redes sociais o impeachment de Dilma Rousseff.
Não é só o trava-línguas: para o líder do MBL (Movimento
Brasil Livre), a estratégia de mobilização do MPL (Movimento Passe Livre) é
fonte de inspiração.
Mas as semelhanças entre o grupo que liderou as
manifestações de junho de 2013 e a articulação que pretende reacendê-las no
próximo domingo não vão muito além.
"Em termos de estratégia, nos inspiramos no MPL. Nas
redes sociais, sim, pensamos de forma semelhante", diz Kim Kataguri,
coordenador nacional do MBL, que defende o livre mercado e o impeachment de
Dilma Rousseff. "Ideologicamente, somos opostos. E os protestos deles têm
sempre vandalismo."
Procurado, o MPL agradeceu a inspiração do quase xará.
"A gente tem uma forma própria de agir e qualquer movimento pode se
inspirar", afirma Heudes Oliveira, porta-voz do grupo.
Além dos objetivos políticos distintos, características como
modelos de financiamento, remuneração de equipes e investimentos em imagem dão
personalidade própria aos movimentos da que irão às ruas neste domingo para
manifestações contra o governo.
Depois de ganhar projeção nacional durante as eleições, os
antigovernistas Vem Pra Rua, Revoltados On Line e MBL intensificaram sua
atuação nas redes e nas ruas às vésperas dos atos.
A seguir, eles dão exemplos à BBC Brasil de suas principais
estratégias:
Financiamento
Todos os grupos frisam ser apartidários e não receber
dinheiro de partidos ou políticos.
Rogério Chequer, criador do Vem Pra Rua, diz que seu grupo é
financiado por "centenas" de "doações espontâneas de pessoas
envolvidas na coordenação do movimento", mas não revela seus nomes.
A BBC Brasil teve acesso ao registro do site Vemprarua.org.br (veja imagem ao lado), URL oficial usada pelo movimento nas
eleições. O domínio foi comprado pela Fundação Estudar, do empresário Jorge
Paulo Lemann, sócio da cervejaria Ambev, da rede de fast food Burger King e
diversos sites de comércio eletrônico.
Registro de site de grupo Vem Pra Rua chegou a pertencer a
fundação ligada a empresário Jorge Paulo Lemann, tido como homem mais rico do
Brasil
No fim de 2014, o site foi excluído e o Vem Pra Rua mudou de
endereço online. Em nota, a Fundação Estudar se disse "apartidária" e
atribuiu o caso a uma "iniciativa isolada" de um ex-funcionário.
"A Fundação Estudar esclarece que não detém o registro
e não hospeda em seu domínio o site vemprarua.org.br. A associação do nome da
Fundação com este site ocorreu erroneamente por uma iniciativa isolada e
individual de um colaborador, que já não faz mais parte do quadro da
instituição."
MBL e Revoltados On Line afirmam recorrer à contribuição
financeira de seguidores e aos próprios bolsos para promover seus atos e
divulgá-los nas redes.
Reação nas redes
Os três principais jornais do Brasil - Folha de S.Paulo, O
Estado de S. Paulo e O Globo – publicaram em suas capas notícias sobre o
panelaço realizado em várias cidades do país durante o primeiro pronunciamento
do ano de Dilma Rousseff.
Organizada com antecedência pelos movimentos online, a
estratégia rendeu destaque aos protestos marcados para o dia 15, gerando reação
imediata dos governistas.
Na primeira batalha entre dilmistas e defensores do impeachment
nas redes sociais, a oposição ganhou de virada.
Em 8 de março, dia do discurso da presidente, a hashtag
#DilmaDaMulher alcançou 38 mil citações entre 20h30 e 22h, contra 36 mil da
oposicionista #VaiaDilma.
O Partido dos Trabalhadores afirmou em sua página na
internet ter sido o assunto mais comentado nas redes sociais "um pouco
antes do discurso, durante e um pouco depois".
Mas até o fim do dia, segundo a ferramenta Sysomos, o jogo
virou e #vaiadilma alcançou 54% das menções (51 mil) contra 46% (44 mil) para
#DilmaDaMulher.
Os volumes registrados não medem o conteúdo (positivo ou
negativo) associado às hashtags.
Já o 'Revoltados', além de publicar a conta pessoal de seu
criador em diversas postagens, aposta em "moda impeachment". Uma
camisa polo preta com aplicação da frase "Impeachment já" e faixa
presidencial estilizada é oferecida por R$ 99,99. O kit completo – polo, boné e
cinco adesivos – custa R$ 175.
A renda gerada é um mistério. "Não tenho esse balanço
fechado, eu não fechei ainda", diz Marcello Reis, responsável pelo
movimento, que tem entre os alvos a crise na Petrobras. "Não quero tornar
isso público. O valor só será divulgado para os associados e não para gente que
só quer perturbar."
Kataguri, do MBL, diz à reportagem ter arrecadado R$ 7 mil
em doações de seguidores para o protesto do dia 15.
Investimentos e imagem
Na internet, como os defensores da tarifa zero, os grupos
anti-PT apostam no maior volume possível de postagens diárias e no bombardeio
de convites para "grandes manifestações". Também promovem "aulas
públicas" – reuniões em espaços abertos para apresentação de pautas do
movimento.
A promoção paga de postagens na internet está entre suas
diferenças.
"A gente promove posts no Facebook", diz à
reportagem o fundador do Vem Pra Rua. "Não é para ganhar visibilidade, é
para direcionar para um 'universo'" – ele não revela quais as
características do público-alvo.
Existe base para impeachment de
Dilma?
Já o Revoltados On Line, líder em número de seguidores,
centraliza sua comunicação em torno de seu criador – que aparece diariamente em
vídeos caseiros e selfies com adeptos do movimento.
"Temos uma equipe fixa de 15 pessoas", diz o
'revoltado' Marcello Reis. "Os administradores não têm remuneração. Alguns
profissionais, editores de vídeo, fotógrafos, eles são remunerados."
Na internet, Vem Pra Rua e MBL investem em vinhetas
profissionais ao fim de seus vídeos, em linguagem, em fotos e em cartazes bem
elaborados.
Também contam com a participação voluntária de famosos, como
os músicos Paulo Ricardo, do RPM, e Roger, do Ultraje a Rigor. Eles fazem
convites para os protestos.
Autor de frases como "Justiça social é outro nome para
caridade com dinheiro alheio", o MBL investe em campanhas inusitadas para
o engajamento de seus seguidores. Numa delas, convida fãs a enviarem discursos
em vídeo.
"O melhor será convidado para discursar do carro de
som", anuncia o grupo.
A cartilha dos 'Revoltados' tem linguagem agressiva:
defensor do impeachment, o grupo usa recorrentemente termos como
"ladra", "vaca", "sapo barbudo" e
"cachaceiro" quando se refere a líderes petistas.
O funkeiro carioca Mr Catra foi o famoso escolhido
recentemente pelo grupo em um de seus vídeos.
Manifestantes protestam contra o governo no Rio de Janeiro
(Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil)
Movimentos de oposição ao governo dizem usar venda de
camisetas e doações como fontes de financiamento.
FONTE : Ricardo Senra
- @ricksenra
Da BBC Brasil em São
Paulo em 13 março 2015
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