CINEGRAFISTA DIZ QUE
PMS FORAM
AVISADOS QUE A COMUNIDADE HAVIA SIDO TOMADA, AO CONTRÁRIO - FORAM RECEBIDOS A BALA
A equipe do Batalhão de Choque que era acompanhada pela
imprensa só entrou na Favela de Antares, na Zona Oeste do Rio de Janeiro,
depois de receber a informação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) de que
a comunidade havia sido tomada e a situação estaria sob controle, segundo
jornalistas que estavam no grupo.
No entanto, a PM se deparou com criminosos, dando início ao
tiroteio que levou à morte do cinegrafista da Band Gelson Domingos. As
informações são do programa Fantástico e o vídeo foi cedido pela TV Bandeirantes.
Pouco antes de ser atingido, Domingos ainda teria alertado
os policiais militares que os bandidos os tinham visto. Ele foi morto por um
tiro de fuzil que ultrapassou a proteção do colete à prova de balas. A vítima
tinha três filhos - um adolescente de 16 anos e duas jovens, uma de 22 e outra
de 20 anos - e dois netos.
O corpo do cinegrafista será sepultado às 14h desta
segunda-feira no Memorial do Carmo, no cemitério do Cajú, região Portuária do
Rio de Janeiro.
ABI E SINDICATO DOS
JORNALISTAS DIVULGAM NOTA DE PESAR PELA MORTE DO CINEGRAFISTA
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e o Sindicado dos
Jornalistas, dois dos maiores órgãos da classe no país, divulgaram notas
lamentando a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos, de 46
anos, durante a cobertura de uma operação policial na favela de Antares, em
Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio
O Sindicato dos Jornalistas criticou duramente as condições
de trabalho na Band, ressaltando o fato de que Gelson e os demais repórteres cinematográficos
também eram obrigados a atuar como motoristas, contrariando as regras da
profissão. Confira abaixo a nota das duas entidades:
Sindicato dos
Jornalistas:
"A falta de segurança e estrutura dada aos
profissionais em áreas de risco resultou em mais uma morte na cobertura
policial em favelas cariocas.
No início da manhã do
domingo (6/11), o repórter cinematográfico da TV Bandeirantes Gelson Domingos,
de 46 anos, foi atingido com um tiro no peito enquanto fazia imagens de uma
operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na favela de Antares, na
Zona Oeste do Rio.
O repórter cinematográfico, que era obrigado a exercer também
a função de motorista do veículo da emissora - contrariando todas as normas de
segurança em áreas de risco -, avistou um homem correndo com fuzil próximo a um
beco.
Gelson procurou proteção junto a uma árvore, começou a
gravar mas recebeu um tiro no peito - que perfurou o colete à prova de balas.
Seu corpo ainda foi levado para a UPA do Cesarão, em Santa Cruz. Na incursão,
ele estava acompanhando de um repórter da TV Bandeirantes.
Segundo relatos de
profissionais que também cobriam a operação, o tiroteio era intenso e as
equipes ficaram protegidas atrás de um muro.
Para o Sindicato, este fato expõe a 'imediata necessidade de
dar continuidade às ações de proteção que foram prioridade após a morte de Tim
Lopes e que hoje estão sendo proteladas pelo Sindicato Patronal'.'Nós fizemos
uma reunião com as empresas para que a segurança dos jornalistas fosse avaliada
e sentimos muita resistência na adoção de medidas concretas em conjunto com o
Sindicato.
As empresas acham que
possuem o controle sobre as situações de risco até que algo acontece e prova o
contrário', alerta a presidente do SJPMRJ, Suzana Blass.Esta reunião, realizada
neste ano com o Sindicatos dos Proprietários das Empresas de Radiodifusão e das
Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas sobre normas de segurança em
cobertura em áreas de risco, buscava o cumprimento do estabelecido na cláusula
45 do Acordo Coletivo de Trabalho.
Mas não foram tomadas medidas concretas pelas empresas.Para
Suzana, a cobertura da violência só fica mais perigosa com a política de
enfrentamento do Estado e a utilização de armas cada vez mais poderosas.
'Se não houver uma profunda discussão sobre medidas de
segurança vamos continuar vivendo situações inaceitáveis como esta', diz a
presidente do SJPMRJ.Também neste ano, em maio, a direção do Sindicato dos
Jornalistas pediu em Brasília o apoio da Comissão de Direitos Humanos do Senado
Federal para a aprovação de leis que possam garantir segurança mais efetiva aos
jornalistas que trabalham em áreas de risco. O pedido foi feito durante
audiência pública realizada em homenagem ao Dia Mundial da Liberdade de
Imprensa.
Ao Sindicato das Empresas, foi proposta ainda em 2009 a
ideia de criar em cada redação uma Comissão Paritária de Segurança, composta
por profissionais do jornalismo, justamente para avaliar as operações em áreas
de risco. Porém, este pedido foi constantemente negado sob a alegação de
interferência nas redações.
'A lógica dos patrões é fazer com que o emprego dos
profissionais, como repórteres cinematográficos por exemplo, esteja garantido
apenas à medida em que o trabalhador se arrisque cada vez mais em situações
como essas', expõe Suzana Blass.
A estrutura dada aos profissionais é pífia já no item mais
básico: o colete à prova de balas. O Sindicato dos Jornalistas já havia
alertado os veículos e exigiu que o material fosse analisado por especialistas
do setor.
Um repórter de
televisão que estava próximo a Gelson Domingos durante a operação na manhã
deste domingo e foi até a UPA acompanhar o corpo, confirma: 'Estes coletes são
lixo, são de papel.''Trata-se de uma tragédia que não podemos deixar que volte
a acontecer', afirma Suzana Blass.
O Sindicato dos Jornalistas exige que a TV Bandeirantes
auxilie a família da vítima financeiramente.Gelson Domingos era um profissional
com vasta experiência na cobertura policial. Além da Bandeirantes, ele
trabalhava também na TV Brasil há cerca de quatro anos.
Antes, tinha passado pela Record e pelo SBT. Em 2010, Gelson
fez parte da equipe de reportagem da TV Brasil vencedora do Prêmio Vladimir
Herzog de Anistia e Direitos Humanos, com o trabalho Pistolagem, sobre
assassinatos no Nordeste do Brasil.'Ele era um cara cascudo, já tinha feito muita
matéria de Polícia', lembra a amiga Neise Marçal, repórter da TV Brasil.
Ela destaca a experiência e a vontade de Gelson em trazer as
melhores imagens, as melhores informações para a redação.Em nota lançada por
volta das 10h30 deste domingo, o Grupo Bandeirantes afirma que "toma todas
as precauções para garantir a segurança de seus jornalistas".A nota ainda
aponta Gelson como 'repórter cinematográfico"
' É comum, no entanto, a contratação irregular de
profissional na função de operador de câmera, com salário menor, para exercer
tarefas de repórter cinematográfico. O Sindicato vai apurar em que situação o
profissional foi contratado pela empresa".
"A Associação Brasileira de Imprensa expressou neste
domingo (6) seu pesar e seu desconforto pela morte em serviço do jornalista
Gelson Domingos, da Rede Bandeirantes de Televisão, abatido com um tiro de
fuzil, mesmo com colete de segurança, quando participava da cobertura de uma
operação policial no subúrbio de Antares, na Zona Oeste do Rio.
A ABI apresenta
sua solidariedade à família e aos companheiros de trabalho de Gelson, exemplo
de jornalista que deu o melhor de si no cumprimento da obrigação profissional.
Embora reconhecendo que a atividade jornalística expõe os profissionais a graves riscos no Brasil e no mundo, a ABI considera necessário reiterar aos jornalistas e às empresas a necessidade de adoção de providências materiais e de procedimentos que diminuam os riscos de perda de vidas e de ferimentos de jornalistas no desempenho profissional. À família de Gelson Domingos, neste momento tão doloroso.
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