GERSON DOMINGUES, CINEGRAFISTA DA BAND, MORTO EM OPERAÇÃO POLICIAL É VELADO E SEPULTADO NO CEMITÉRIO DO CAJU, NO MEMORIAL DO CARMO, NO RIO
Gelson Domingos, cinegrafista da rede Bandeirantes que morreu baleado enquanto cobria uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) na Favela dos Antares, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, foi sepultado, às 14h , segunda-feira,(7). Familiares, amigos e profissionais da imprensa estavam presentes no Memorial do Carmo, no Cemitério do Caju, Região Portuária, para lhe prestar suas últimas homenagens.
Gelson Domingos tinha 46 anos, três filhos - um adolescente de 16 anos e duas jovens, uma de 22 e outra de 20 - e dois netos. O irmão, Ricardo da Silva Domingos, esteve no local e lembrou do apreço que o Gelson tinha pela profissão.
-Meu irmão amava o que fazia, disse, emocionado. “Mas hoje meu irmão foi salvo, ele foi orando. Deus o levou com dignidade”. Gelson usava o colete à prova de balas, mas o equipamento não foi o suficiente para protegê-lo do tiro de fuzil que levou no peito.
Os agentes ainda tentaram levar o profissional para a UPA do Cesarão, no mesmo bairro, mas ele não resistiu ao ferimento.
REPÓRTER HERNANI ALVES: “PODERIA TER SIDO QUALQUER UM”
O repórter Hernani Alves, que acompanhava o cinegrafista durante a incursão disse que “poderia ter sido com qualquer um”. - Gelson era um profissional muito experiente, tinha 20 anos de profissão, não foi negligente em nenhum momento, mas os bandidos surgiram do nada e de repente abriram fogo, acrescentou o repórter Hernani Alves, afirmando que no momento da troca de tiros ficou abaixado em um beco e não viu o colega ser atingido.
-Quando outro cinegrafista me contou que Gelson tinha sido baleado, foi o momento em que me dei conta de que estava fazendo a única matéria que eu nunca queria ter feito, lamentou. Segundo o cinegrafista da TV Globo Allex Neder, ele e Gelson Domingos brincavam momentos antes de ficarem na mira de traficantes.
“A gente não tinha o que fazer. Nós entramos em uma rua em que os bandidos estavam encurralados”, lembrou Neder, que viu o momento em que Gelson foi baleado, mas não pode socorrê-lo, por causa dos disparos.
-É muito difícil ver um amigo baleado. Ele estava trabalhando, assim como eu. Ele era um homem corajoso, amigo, aprendi muito com ele. Ele gostava muito do que fazia, disse.
A OPINIÃO DA PM
O Coronel Frederico Caldas, coordenador de comunicação social da Polícia Militar esteve presente na cerimônia e disse que Gelson Domingos era muito querido entre os policiais.
-A Polícia Militar não podia deixar de estar aqui para dar uma palavra de carinho e de conforto numa situação tão trágica, afirmou.“O sentimento que temos hoje é semelhante ao que temos quando perdemos um policial nosso, tamanha era a proximidade que ele , tinha com a nossa tropa”, completou.”
A Posição da ABI
Maurício Azedo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI),disse que o caso de Gelson Domingos pode ser o gatilho para que as autoridades imponham limites na cobertura da imprensa em situações de risco.
-Os profissionais e as empresas tem que se impor diante da evidência de que é necessário dotar a atividade profissional de medidas de segurança e precaução que inexistem atualmente, afirmou..
“Esse trabalho se impõe para evitar a repetição de episódios desafortunados como este, que nos privou da companhia do Gelson Rodrigues”, disse.
Maurício Azedo acrescentou ainda que acredita que o episódio vai levantar reflexões e classificou de “certo oba-oba” a movimentação dos profissionais da imprensa em campo. Para ele, a atividade em operações poderá sofrer “contenção”.
Para o Coronel Frederico Caldas, “ morte do Gelson terá sido em vão se não houver uma discussão, se não houver uma reflexão do papel de jornalistas”, disse.
“Nós sabemos muito bem que essa palavra limite ela tem uma conotação preocupante para a mídia, mas é preciso que nós tenhamos limite, sim, especialmente quando tratamos da vida de pessoas. Nós não temos como controlar o trabalho da imprensa porque não nos cabe isso. O trabalho da imprensa é fundamental para informar o cidadão. Mas é o momento de refletir até que ponto vale a pena buscar a informação a qualquer custo” afirmou.
O coronel admitiu que o uso do colete à prova de balas não garante a segurança total dos profissionais da imprensa, nem mesmo dos policiais.
-O colete é um equipamento mínimo de segurança, mas a gente sabe que há restrições e limitações, ele pode preservar uma área vital do corpo, mas não necessariamente vai dar uma garantia de 100%”, disse.
A POSIÇÃO DE BOECHAT
-É importante não aceitar a ideia clichê de que as empresas jornalísticas estão mandando seus profissionais para a morte. Isso é oportunismo de quem fala e até mesmo ridículo, porque é imaginar que os profissionais, como no caso do Domingos, não eram eles mesmos suficientemente maduros, experientes e apaixonados pela profissão para ir até onde achavam que podiam ir, disse.
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