MACONHA
COM PLANTAÇÃO E VENDA NAS MÃOS DO ESTADO: O NOVO DESAFIO DO GOVERNO DO URUGUAI
O Uruguai se
tornou na terça-feira,(11), o primeiro país latino-americano a legalizar a
produção, distribuição e venda de maconha, assim como o primeiro do mundo a
submeter todas essas etapas ao controle do Estado.
Só não
se sabe ainda qual os caminhos que o “narcotráfico
estatal” seguirá no Uruguai em relação
aos demais países da América Latina, como o Brasil, por exemplo , onde o plantio e comercialização da droga se constitui em crime.(EDITOR)
O projeto ,
como era previsto, foi aprovado no
Senado e logo depois ira à sanção do
presidente José Pepe Mujica, coisa tida
como certa.
Segundo o
governo, o objetivo da lei é tirar poder do narcotráfico e reduzir a
dependência dos uruguaios de drogas mais pesadas.
Mas como vai
funcionar essa nova lei? Abaixo a BBC responde a várias perguntas para ajudar o
leitor a entender como vai funcionar a liberação da maconha no Uruguai.
Quem vai supervisionar a 'indústria'
da maconha?
Pela lei, o
Estado assume o controle e a regulação das atividades de importação, produção,
aquisição, a qualquer título, armazenamento, comercialização e distribuição de
maconha ou de seus derivados.
Uma agência
estatal, o Instituto de Regulação e Controle de Cannabis (IRCCA), ligado ao
Ministério da Saúde Pública, será responsável, por sua vez, por emitir licenças
e controlar a produção, distribuição e compra e venda da droga.
Em suma,
todas as fases do processo terão, de alguma forma ou de outra, a presença do
Estado .
Quem pode comprar e plantar maconha?
Todos os
uruguaios ou residentes no país, maiores de 18 anos, que tenham se registrado
como consumidores para o uso recreativo ou medicinal da maconha poderão comprar
a erva em farmácias autorizadas.
Além disso,
os usuários poderão ter acesso à droga de outras duas maneiras:
Auto cultivo
pessoal (até seis pés de maconha e até 480 gramas por colheita por ano) .
Clubes de culturas (com um mínimo de 15 membros e um máximo de 45 e um número
proporcional de pés de maconha com um máximo de 99). A lei limita a quantidade
máxima que um usuário pode portar: 40 gramas. A legislação também determina o
máximo que uma pessoa pode gastar por mês com o consumo do produto.
Ainda não
está claro, no entanto, qual será o preço da maconha legal. Embora o governo
pretenda competir com o narcotráfico estabelecendo preços de mercado - por
exemplo, US$ 1 (R$ 2,30) por grama -, organizações de consumidores asseguram
que essa meta será difícil de ser cumprida.
A erva
também poderá ser cultivada para o uso científico e medicinal, que poderá ser
obtida por meio de receita médica.
A lei também
legaliza a produção da maconha no princípio ativo conhecido como cânhamo
industrial (presente em alguns hidratantes, por exemplo).
Produtores
também poderão cultivar a erva, desde que autorizados pelo Estado.
Como as licenças são concedidas ?
De acordo
com dados do Conselho Nacional de Drogas do Uruguai, 20% dos uruguaios com
idade entre 15 e 65 anos usaram maconha em algum momento de sua vida e 8,3 % o
fizeram no último ano.
O plantio de
10 a 20 hectares (em torno de 15 vezes a dimensão de um campo de futebol) de
cannabis em estufa seria suficiente para atender a demanda nacional, de acordo
com estimativas oficiais preliminares.
De acordo
com uma pesquisa realizada por uma consultoria privada, 63% dos uruguaios são
contra a lei de regulação da maconha, uma proporção semelhante à registrada há
um ano, quando o presidente do Uruguai, José Mujica, apresentou a proposta .
O projeto de
lei não especifica quais serão os critérios para outorgar licenças, qual será o
custo da erva ou quem estará autorizado a cultivar o produto.
Por outro
lado, a regulação estabelece a criação dos registros correspondentes para a
produção, o autocultivo e o acesso à maconha por meio de farmácias.
Esses
registros serão guardados pela lei de proteção de dados sensíveis ou lei do
habeas datas e serão administrados pelo Instituto de Regulação e Controle de
Cannabis.
De acordo
com estimativas do governo, o volume previsto de produção da maconha é de 26
toneladas anuais, o equivalente ao total consumido no mercado negro.
Segundo
afirmou à BBC o diretor do Conselho Nacional de Drogas do Uruguai, Julio
Calzada, o governo prevê outorgar inicialmente poucas licenças a produtores de
maconha (em torno de 20) de forma a garantir a segurança e os níveis de
colheita necessária para atender a demanda.
As primeiras
licenças devem começar a ser concedidas em meados do próximo ano.
Qualquer
plantação não autorizada deve ser destruída com a intervenção de um juiz e o
IRCCA será responsável pela implementação das sanções caso haja violações das
normas de licenciamento.
Como a legalização afetará outros
países?
A maconha
será produzida em solo uruguaio, mas as sementes poderão ser provenientes de
outros países.
Além disso,
o Uruguai poderá se voltar para o mercado global para vender suas sementes e
poderá exportar os seus produtos para outros países onde o uso medicinal ou
recreativo da droga é permitido.
Segundo
Calzada, 'há um movimento interessante de produtores, agricultores, tanto a
nível nacional como internacional, que excede em muito as licenças que o Estado
irá proporcionar.'
'Há empresas
interessadas e também alguns casos governos, que estão interessados em licenças
para o uso medicinal', diz ele.
Alguns
países, entretanto, como o México e o Brasil, demonstraram preocupação com a
aprovação da lei.
'Em nenhum
momento tentamos convencer nenhum país do que estamos fazendo aqui', diz
Calzada, 'mas queremos dar a garantia a outros países de que a maconha
produzida legalmente aqui não vai acabar no mercado negro. Este é o nosso
compromisso'.
O consumo deve aumentar?
Segundo o
governo, a medida não ampliará o mercado de maconha: a lei simplesmente
regulariza o uso para não incentivar o consumo.
No entanto,
os opositores da lei temem quem, com a legalização, mais jovens queiram
consumir a droga.
O governo já
anunciou que vai desenvolver planos para prevenir o consumo e proibiu a
publicidade e venda do produto para menores de 18 anos.
A lei também
determina a criação de uma Unidade de Monitoramento e Avaliação da aplicação e
cumprimento da nova legislação.
Segundo o
governo, as receitas obtidas com a legalização da maconha serão destinadas ao
financiamento de programas de prevenção, reabilitação e outros fins sociais .
A indústria de cannabis pode crescer?
Enquanto o
governo diz que a prioridade é roubar o negócio do tráfico de drogas e promover
a prevenção, algumas pessoas disseram que a lei poderia até trazer benefícios
econômicos para o país.
De acordo
com o grupo que reúne as organizações a favor do projeto, o Regulación
Responsable, 'oportunidades de negócios para os produtores nacionais, farmácias
e outros atores envolvidos na cadeia de produção são abertas.'
'Nos últimos
anos, o mundo iniciou um processo de pesquisa e geração de conhecimento sobre a
maconha , especialmente na área médica e farmacêutica', disse à BBC Martin
Collazos, do Regulación Responsable.
'Há cannabis
com fins psicoativos, mas também industriais: produção de tecido a base de
cânhamo, papel, biocombustíveis e infinitas possibilidades de incorporar a
produção de mais-valia da cannabis', diz ele .
Atualmente,
estima-se que o mercado de maconha ilegal no Uruguai movimente cerca de US$ 30
milhões (R$ 70 milhões) por ano.
FONTE: BBC
Brasil - Todos os direitos reservados. "Jose Pepe Mujica | Crédito: AFP"


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