NATAL DOS TEMPOS IDOS QUE NÃO VOLTARÃO JAMAIS!
O tempo
passou, mas ainda tinham saudades do
natal dos tempos idos que não voltarão jamais: a mãe na cozinha, o peru assando no
forno e o entra e sai dos irmãos.
A tia mais
nova, sentada à mesa, o pai conversando com ela, com um copo de vinho na mão.
Todos em expectativa esperando a hora da ceia, quando toda família estaria
reunida.
Ainda tem saudades do natal dos tempos idos, que
não voltarão jamais. A lapinha montada na sala, feita de papel de embrulho,
pintado para parecer uma gruta. O menino Deus de braços abertos, Maria, José,
os três Reis magos, os anjos tocando cornetas, cantando louvores ao menino Rei.
Saudade
daqueles tempos idos, de sentimentos vivos, cheios de fé. Tinha saudade
daqueles tempos idos que não voltarão jamais: o pai, a mãe, irmãos, tias,
cunhadas e sobrinhos, se reuniam para homenagear a vinda do Deus Menino.
A ceia só era
servida, quando o irmão mais graduado chegava, com seus galões nos ombros. Uma
maneira velada de homenagear o que mais se destacara nas artes da guerra.
E nós
ficávamos pelos cantos, como gatos espiões, a tudo observando e esperando o
desfecho de tudo. Nós gatos espiões encostados pelos corredores esperando ser
servidos ou amados. Mas ali se amava os iguais os que professavam a mesma
religião.
Mesmo assim
tinha saudade daqueles tempos idos e dos natais. Não estavam ali para comer e
se empanturrar. Não estavam ali para esperar ou mendigar amor. Queriam dar amor, amar e não, ser amados.
Ele, o
príncipe da Paz, morrera por todos e veio para todos e não para os adeptos de
uma determinada religião. Dos que se dizem cristãos, mas que não lhe seguem os
passos e os ensinamentos.
Mesmo assim
tinha saudade dos natais dos tempos idos. A mãe morreu, o pai e uma tia,
também. E até um irmão mais novo, cedo
partiu. Só eles ficaram para lembrar-se dos tempos idos que não voltarão
jamais.
Foram tempos
felizes, mesmo na indiferença, na pobreza. Foram tempos cheios de esperanças,
embora ficassem pelos cantos como gatos espiões, sem ser compreendidos ou
amados.
Sabiam que na
vida é mais importante dar, do que receber, compreender do que ser
compreendido, amar, que ser amado. No final das contas tudo passaria mesmo, quisessem
ou não, pois nem os natais suportam a ação devastadora do tempo, esse
restaurador das igualdades e construtor de destinos.
Quem, em sã
consciência poderia dizer que passado tantos anos estariam ali, recordando
natais dos tempos, que não voltarão jamais?
O tempo
passou e mudou a mentalidade dos que ficaram. Afinal, a mãe tinha um filho todo
ano e dos treze, criou nove. A família se uniu em torno da tia mais velha,
beirando os cem anos. E lá e, em torno
dela, aprenderam a amar uns aos outros.
Os natais voltaram a serem festejados, aniversários e muitas confraternizações.
Também o
preconceito religioso foi diminuindo e as diferenças em torno da fé se
apascentaram. Mas nunca mais tudo foi como antes: havia preconceitos,
diferenças religiosas, mas muito amor
embutido na força mágica e coercitiva daquela
mãe. Por isso, seguindo o irmão mais velho, todos a chamavam de “mãezinha”!
(Reeditado em HISTÓRIAS DA CRUCIFICAÇÃO, da coleção digital ,e Books, da Editora Saraiva e Siciliano -2013)


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