NOSSA DOR NÃO
É ESPETÁCULO: ENTIDADES E MOVIMENTOS SOCIAIS PROTESTAM EM ATO PÚBLICO
CONTRA OS PROGRAMAS POLICIAIS E O SENSACIONALISMO EM NOME DA AUDIÊNCIA
Após caminhada e um ato público em repúdio aos programas
policiais, realizado quarta-feira (15), por entidades e movimentos sociais , eles já articulam nova manifestação para o dia
14 de fevereiro, na Câmara Municipal de Fortaleza, quando serão abertos os
trabalhos legislativos de 2014.
Representantes de diversas entidades e movimentos sociais
participaram na tarde de quarta-feira (15), em Fortaleza, de caminhada e ato
público em repúdio aos programas policiais. A manifestação denominada Nossa Dor
Não é Espetáculo foi uma das medidas articuladas após a exibição, no último 7,
ao meio dia, de uma reportagem de 17 minutos contendo cenas do estupro de uma
menina de 9 anos.
A matéria foi veiculada no programa policial Cidade 190, da
TV Cidade, afiliada da Rede Record no Ceará. A caminhada começou na Praça
Portugal, na Aldeota, e seguiu pela Avenida Desembargador Moreira até a sede da
emissora, onde houve o ato público.
“Não se trata, contudo, de um caso isolado. Desde 1990,
quando o primeiro programa policial produzido no Ceará foi ao ar, assistimos,
diariamente, violações de direitos de toda ordem: apelo à violência,
criminalização da pobreza, exposição e ridicularização de vítimas e agressores.
Até onde pode chegar o abuso e a irresponsabilidade ‘jornalística’ de um canal
de TV através de seus programas policiais?”, diz um trecho da nota assinada
pelas entidades e movimentos sociais, e
distribuída durante a manifestação (conheça o texto na íntegra no final desta
notícia).
O ato e a nota, bem como denúncias a orgãos como Ministério
Público, Ministério das Comunicações, Conselho Nacional dos Direitos da Criança
e do Adolescente e outros foram deliberações aprovadas em reunião no último dia
9 no Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca-Ceará) em
Fortaleza. Participaram representantes de cerca de 35 entidades. Logo após a
repercussão negativa da exibição da matéria com as cenas de estupro, a TV
Cidade divulgou nota informando que exibiu as imagens a pedido do pai da
menina.
Pior programa
Com cartazes coloridos, os manifestantes ocuparam parte da
pista da Avenida Desembargador Moreira, ganhando o apoio de pessoas que
passavam. Uma delas, a auxiliar de consultório odontológico, Fátima Matias,
contou que não tem o hábito de assistir aos programas policiais. Mas, por
coincidência, viu a reportagem sobre o estupro da menina. “As imagens são
fortes e eles ficaram repetindo várias vezes”. Na opinião dela, os programas
policiais mostram violência demais,
podem até continuar existindo mas sem dar tanta ênfase às cenas de violência.
Em frente à TV Cidade, os manifestantes colaram cartazes na
grades de proteção da emissora com dizeres como “exploração sexual de criança e
adolescente é crime; mostrar as imagens também”, “controle social não é
censura”, “fim dos programas policiais” e o slogan do evento “nossa dor não é
espetáculo”. O ato teve momento de irreverência com a entrega simbólica do
Troféu Carniça ao Cidade 190, considerado pelos manifestantes o ‘pior programa
policial’.
Comunicação e Direitos Humanos
A
advogada Nadja Bortolotti, integrante da coordenação
colegiada do Cedeca-Ceará, disse que a entidade vem acompanhando a mídia no que
diz respeito à questão dos direitos da criança e do adolescente e, nesse
monitoramento, foi observado que não são violados somente esses direitos mas os direitos humanos em geral. É
consenso a necessidade de mudar esse quadro.
Para presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais
no Estado do Ceará, Samira Castro, não dá mais para, na hora do almoço, às
famílias receberem desses programas cenas como as do estupro do menina,
cadáveres na rua, sangue e toda sorte de violências. Segundo Samira, esses programas “ditos
jornalísticos” não o são. “São entretenimento de mau gosto”. Ela defende o fim
desse tipo de programa. Considera que casos policiais sejam tratados em
programas jornalísticos obedecendo critérios realmente do jornalismo. Advertiu
ainda sobre a necessidades das emissoras de TV cumprirem à classificação
indicativa por faixa etária.
Raquel Dantas, do Coletivo Inter vozes, também manifestou
opinião a favor do fim desses programas “pautados pela violação dos direitos
humanos”. Informou que já foi feito um documento a ser encaminhado ao
Ministério das Comunicações denunciando os abusos, como a exibição das cenas de
estupro da criança de 9 anos.
Com cartazes coloridos, os manifestantes ocuparam parte da
pista da Avenida Desembargador Moreira, ganhando o apoio de pessoas que
passavam. Uma delas, a auxiliar de consultório odontológico, Fátima Matias,
contou que não tem o hábito de assistir aos programas policiais. Mas, por
coincidência, viu a reportagem sobre o estupro da menina. “As imagens são
fortes e eles ficaram repetindo várias vezes”. Na opinião dela, os programas
policiais mostram violência demais,
podem até continuar existindo mas sem dar tanta ênfase às cenas de violência.
Ato na Câmara Municipal
Outra manifestação de repúdio aos programas policiais está
programada para o dia 14 de fevereiro, na Câmara Municipal de Fortaleza. O
apresentador do programa Cidade 190, Vitor Valim, é vereador.





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