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Ano 6 - Edição 2451-

- Março

2016 -

Fortaleza-Ceará-Brasil

terça-feira, 15 de abril de 2014

CINQUENTA ANOS DEPOIS, UM MERGULHO NOS ANOS DA DITADURA, O PONTO DE FUGA DOS CRIADORES:O que leva um homem a dedicar uma vida inteira a arte de escrever? São seus sonhos, desejos, vaidade, ou há algo de oculto nesse mister divino, a arte de contar histórias? Assis Brasil talvez tenha essa resposta, mas não quis nos dar, porque tem vivido uma existência dedicada a criá-las, como se fosse o nutridor dessa necessidade ,que o ser humano adquiriu, com a experiência tribal, ao lado das fogueiras ancestrais, até que surgisse a palavra escrita: contar histórias.

A ´PRODUTORA LUCILA MARTINS, CO-DIRETORA
COM MARINA FARIAS, DO DOCUMENTÁRIO : ASSIS BRASIL - O CIGANO ERUDITO

CONFISSÕES DE UM REPÓRTER TRAZ EM PAUTA O ESCRITOR PIAUIENSE ASSIS BRASIL

Querida Lucila acabei de receber o documentário "ASSIS BRASIL - O CIGANO ERUDITO", sobre a obra do mestre Assis Brasil. Ainda não tive tempo de vê-lo, o que  farei  quarta-feira (16). A tarde , consegui falar por telefone com o Assis, em Teresina. Ele quebrou o fêmur e senti que esta preocupado e só. Aconselhei que ele tomasse o mastruz ( ou erva de Santa Maria), como é conhecida popularmente no pais, pois é um grande cicatrizante dos ossos e anti-inflamatório.

Pedi-lhe autorização fara contar sua história  no Rio e ele de pronto me concedeu permissão. Gostaria de ir ao Piauí ( Teresina) para visita-lo, mas estou sem grama suficiente, no momento. O melhor meio de chegar lá para mim seria de avião. Quem sabe se não realizo esse sonho,  agora que devo participar do segundo documentário sobre a vida desse piauiense extraordinário, que no Rio foi meu anjo da guarda, professor, amigo, companheiro de jornadas nas letras e no jornalismo, no tempo do golpe militar.

Espero que mantenhamos o contato e realizemos esse sonho ( trabalho ) juntos: divulgar a grande obra desse baluarte das letras nacionais, tão injustiçado, com mais de 200 livros publicados, entre romances, contos, ensaios e criticas. Assis Brasil é um capitulo a parte no meu novo livro ( está sendo escrito): Confissões de um Repórter - CINQUENTA ANOS DE POIS DO GOLPE.


A CURA PELA VIDA
"Um livro belíssimo, que nos mostra
o homem culto, além do criador”.

ÓRION LIMA

O que leva um homem a dedicar uma vida inteira a arte de escrever? São seus sonhos, desejos, vaidade, ou há algo de oculto nesse mister divino, a arte de contar histórias? Assis Brasil talvez tenha essa resposta, mas não quis nos dar, porque tem vivido uma existência dedicada a criá-las, como se fosse o nutridor dessa necessidade ,que o ser humano adquiriu, com a experiência tribal, ao lado das fogueiras ancestrais, até que surgisse a palavra escrita: contar histórias.

E não há nada que expresse mais esse dom, do que a capacidade de introjetar de si mesmo , a mesma dor, o mesmo grito, vagido dos que nascem e terão que se perpetuar e se tornar incomuns, para o engrandecimento da raça humana. Conheço Assis Brasil desde os meus tenros 21 anos, quando fui seu aluno na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Hoje já passei da casa dos 60.
Sua devoção por escrever, criar, me contaminou e moldou por muitas décadas meu destino. Ouvi muitas histórias de Assis Brasil em primeira mão, quando eram ainda simples ideias e, comunguei com ele do sucesso de sua Obra, hoje grandiosa, ímpar e imortal.

Tentei seguir seus passos na literatura, sem imitá-lo, e terminei por transformá-lo, sem querer, em muitos personagens de meus livros, tão rica e viva era a lembrança de um homem moldado para a criação e para as letras, mais afeito aos caprichos da arte , do que das veleidades e vicissitudes de uma vida comum, tão pequena entre tantos, que buscam aqui, um lugar ao sol.

 Sobrevivemos os anos de ditadura no Rio de Janeiro, assim, mergulhados na literatura, nos sonhos-ficção que transformamos em realidade. Enfim, escapamos da fome, da morte e da perseguição direta, ostensiva, dos donos do poder e da verdade, naqueles tempos sombrios e cheios de amargura!

Ainda tenho sua velha maquina de escrever que comprei por “Duzentos mil cruzeiros”, máquina  com a qual criou livros maravilhosos: Beira Vida, Rio; o Salto do Cavalo Cobridor; Pacamão;  a serie infantil As Aventuras do Gavião Vaqueiro, e   o original  “O Sol, Deus e Shakespeare” .

Guardo  ainda um cem numero de recordações, de nossos “acampamentos literários” no seu sitio de Itaboraí – onde eu era o cozinheiro  mó - , pois ele ainda não casara com Anita; de papos infindáveis sobre literatura, nos tempos do Jornal do Escritor , lã no alto da Camerino, em pleno coração da Cinelândia ou nas visitas a Barbosa de Melo ,na  Revista Leitura.

De nosso convívio amigável na Praça do Largo do Machado, com Fausto Cunha, Samuel Rawet, José Louzeiro, Osmar Rodrigues Marques, o piauiense Zequinha, o cearense João de Deus Pinheiro Filho, o catarinense Lauro Vandal . Das viagens aos congressos literários e da rotina nas redações de jornais, principalmente da Tribuna da Imprensa , de Hélio Fernandes, herança bendita de Carlos Lacerda.

Foram tempos amargos e ao mesmo tempo felizes. Entre passeatas sangrentas,  bombas de gás lacrimogênio e balas de  verdade, que matavam e como mataram mesmo! Não tínhamos liberdade de expressão, mas éramos livres e vivíamos a mesma vidinha de sempre, entre sonhos, projetos literários. Só que Assis Brasil os concretizava, metodicamente, enquanto eu aguardava um novo tempo para nascer literariamente.

Ao abrir seu livro  “A Cura pela Vida”, foi como tomar um banho lustral na aura “maldita” que encobre os criadores e vi que Assis Brasil não mudou muito desde nosso último encontro, no inicio da década de 90 , quando fui casar no Rio, e em sua casa fizemos uma espécie de "despedida entre velhos amigos". E com que força essas palavras me lembraram desse dócil escritor, profícuo nas letras, mestre da criação literária, criador de tantos personagens, que hoje aos 80 anos vive de conferencias e dos direitos autorais, em Teresina , Piauí.

É claro que o tempo muda tudo e já não sentimos o mesmo vigor em suas palavras, ao telefone. A mesma força física que hoje me falta, embora seja bem mais novo do que o Assis, que sobreu dos males da vida na juventude , enquanto eu no inicio da maturidade tenha parte do coração, binômico, não possua a gandula tireoide (retirada graças a um câncer que foi curado) e, por causa da obesidade tenha que controlar o açúcar e tomar insulina...

 Mas não se pode querer tudo para sempre, mesmo sabendo que somos imortais graças as letras e a nossa obra, pequena ou grande aos olhos de um povo sem cultura livresca, mas começa a ver o livro e seus autores com outros olhos. E assim que vejo meu velho amigo, que hoje se define assim:

“Sou um homem infeliz”

“Não demorei muito a me convencer disso na senilidade de um final de vida. Não vou escrever minhas memórias, pois sobre elas ou por meio delas nada tenho a dizer. Falo sobre o meu presente, na infelicidade de sentimentos talvez acumulados durante toda minha existência”.

A vida é longa, ao contrário do que muitos pensam ou sentem. Fico espantado quando descubro que jovens de dezessete, dezenove anos são brutamente mortos, assassinados por pessoas medíocres e sem futuro. “A vida também é fúnebre”.

Ao ler esse trecho do inicio de sua obra, descobri o fio da meada de nossas antigas conversas literárias, onde obra e o criador se misturam, criador e o criado são um só, pela necessidade de entender a si mesmo e aos outros. O que nos sobra é essa angústia, esse sentimento embutido, ao verificarmos a transitoriedade de tudo e o glorioso ou lastimável fim que nos aguarda.

Assis Brasil tem esse dom maravilhoso de nos conscientizar através de sua arte. Motivado, novamente por sua obra, terminei meu primeiro livro “Das Coisas, da Vida e da Morte e de Chico Asa Baixa e escrevi mais dois outros: Histórias da Crucificação e Viagens, Sodoma pede Socorro”, o primeiro editado pela `Prêmius, de Fortaleza, em 2012 e ,  posteriormente, os três, pela edição de livros digitais da Saraiva, (e-Books) ,em 2013. 

Assim terminou um ciclo começado em 1968, quando fui seu aluno na Escola de Comunicação da Universidade Federal do  Rio de Janeiro, com mais uma herança: o conto palimpsesto.

E mesmo sem ser crítico literário, ao ler uma das suas mais recentes obras, - A CURA PELA VIDA – OU A FACE OBSCURA DE ALLAN  POE -, descobri um novo Assis Brasil, talvez mais filósofo, profeta, visionário e um pouco mais amargo, facilmente identificado – para quem o conhece a fundo, - como tudo que criou ao longo desses mais de 30 anos, com uma novidade : O ROMANCE PALIMPSESTO – ESSE  ETERNO DIÁLOGO, (MONÓLOGO-FICÇÃO ), COMO ALLAN POE.

Na  Cura pela Vida, vi o mesmo Assis menino, que se banhava no rio barrento de sua Parnaíba, no seu Parnaíba encantado. A mesma eterna Luíza, prostituta envelhecida, que tanto o marcou em Beira-Rio, Beira Vida, ainda é viva em seus sonhos.

“Um dia ela o contou que seu homem foi embora e o menino entendeu que ele – o homem dela- desaparecera silencioso como o rio”. E ela ficara sem o seu protetor, guardião. E muitos anos se passaram: o menino cresceu, mudou de cidade, ficou famoso. E finalmente voltou para ver o seu velho rio, cheio de nostalgias e sofrimentos, em busca de Luíza, envelhecida e triste, que sofrera por amor e ainda vagueia em suas lembranças.

Eis, pois, a síntese de uma imensa obra que começou com “Os Verdes Mares Bravios”, o seu primeiro livro, toda ela permeada pelo humano ser, cheio de filosofias e sem explicação para os mistérios que nos amedrontam e atormentam: talvez como disse Baudelaire, “a ferida e a faca, a vitima e o algoz.” 

E de nada adianta apelar para Edgard Allan Poe, em múltiplos diálogos e devaneios. O que vemos ao longo de “A Cura pela Vida” é essa necessidade de saber “o que virá depois”.

Um livro belíssimo, que nos mostra o homem culto, além do criador. Aquele que sabe brincar com as palavras de uma maneira criadora, usando o saber de tantos, para alertar nossas consciências. Um reflexo da sociedade brutal em que vivemos, estruturada nos moldes do mal, que habita em todos os corações e que convive com nossa hipocrisia e mediocridade. 

Oculto em seus mágicos diálogos, há uma tentativa desesperada de “escapar” do destino atroz que a todos aguarda - a espera de um novo corvo que repita as suas mesmas sábias palavras: “Nunca mais!”  (Nota: texto reescrito e readaptado ao original) 


ÓRION LIMA -EDITOR

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