PAÍS PAROU PARA
ASSISTIR O ÚLTIMO DEBATE NA TV GLOBO,
QUE CONFIRMOU A FIRMEZA DE DILMA E A
IRONIA REPETITIVA DOS ATAQUES DE AÉCIO
- Eu acho que amanhã de manhã a primeira pesquisa não
captará inteiramente esse reflexo. As pessoas vão discutir, trocar opiniões, e
até a votação o efeito poderá se cristalizar nas intenções de voto",
acrescenta.
Ismael atenta ainda para três grupos que estariam na mira
dos candidatos nesta reta final da campanha: os eleitores que votaram em Marina
Silva (PSB) no primeiro turno e sinalizam a intenção de anular o voto na
segunda rodada; os indecisos e os eleitores que têm preferência por um
candidato, mas ainda não descartaram alterar o voto na última hora.
Desempenho
Para os analistas, os candidatos tiveram desempenhos
semelhante aos debates anteriores, com pequenas alterações dignas de nota.
Esperava-se que o candidato Aécio Neves explorasse mais as
denúncias apresentadas pela revista Veja contra a presidente Dilma Rousseff e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Ele abriu o debate com uma questão sobre a Veja, mas
depois não retomou o assunto. Creio que a estratégia foi pontuar a questão, mas
não saturar o eleitor, para evitar que o tema se tornasse um tiro pela
culatra", diz Carlos Pereira, da FGV-Rio.
Para Ricardo Ismael, da PUC-Rio, Aécio saiu-se bem ao optar
por uma estratégia mais ousada. "Ele partiu para as perguntas mais
difíceis. Denúncia da Veja, porto em Cuba, apostou em questões contundentes. Já
Dilma optou por suas zonas de conforto: Pronatec, Minha Casa, Minha Vida,
níveis de emprego", avalia.
Já Carlos Manhanelli, da Associação Brasileira de
Consultores Políticos, diz que embora Aécio tenha se saído muito bem, Dilma
mostrou-se mais treinada, mais tranquila e com expressões mais suaves do que em
debates anteriores. "É visível que o media training dela surtiu efeito.
Ela gaguejou muito menos, mostrou-se mais segura", avalia.
Bastidores
Do lado de fora da arena onde ocorria o confronto, dezenas
de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas não convidados assistiam resignados
ao último encontro entre os candidatos antes das eleições por televisores
espalhados na sala de imprensa.
Logo no início, uma coordenadora de produção murmurou à
assistente, preocupada com o buffet montado para atender a imprensa.
"Manda o pessoal trazer a comida que sobrou lá dos
candidatos para servir aqui para os jornalistas. Senão vai estragar nos camarins."
Pouco tempo depois, na medida em que o tom mais agressivo
crescia entre os candidatos, o banheiro masculino localizado na sala de
imprensa, o único da área, rapidamente se tornou uma espécie de "zona de
paz", um ponto de encontro entre correligionários de Dilma Rousseff e
Aécio Neves.
Por ali passaram empresários e parlamentares de todas as
matizes políticas, como o empresário João Dória Jr, o governador da Bahia
Jacques Wagner (PT), o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) e o
senador eleito José Serra (PSDB).
Bem humorado, Wagner contou que conversou com Serra no
local. O conteúdo da conversa ele não revela.
Já o faxineiro responsável pela limpeza do banheiro
("Estou cansado. Quero que isso acabe logo para ir para casa"), diz
não querer saber de política.
"Vou votar nulo", rebateu sucintamente quando
questionado pela reportagem se votaria em Dilma ou em Aécio.
Entrevistas
Ao fim do debate, a petista e o tucano deram entrevistas
coletivas a jornalistas. A primeira a responder à imprensa foi Dilma, que
roubou a cena.
Questionada por um jornalista sobre o que faria se
descobrisse "eventualmente" que o esquema de corrupção da Petrobras
teria abastecido um suposto caixa dois de sua campanha, como publicado pela
revista Veja, a presidente respondeu categoricamente: "não existe esse
'se' na minha campanha. Próxima (pergunta)".
A pergunta seguinte seria de um jornalista angolano e, logo
depois, de um repórter japonês que, com um português claudicante, mas
compreensível, questionou Dilma sobre a segurança dos investimentos na
Olimpíada do Rio 2016.
"Olha, se eu bem entendi a sua pergunta", disse a
petista, e abriu um sorriso antes de responder.
Dilma finalizou lembrando um trocadilho do último debate,
quando foi interrompida por uma assessora da TV Globo por ter ultrapassado o
tempo. Interrompida mais de duas vezes, ela concluiu a frase e soltou: "já
falei que vocês estão ficando com mania de tempo".
Após a petista, foi a vez de Aécio subir ao púlpito e
conversar com jornalistas.
O tucano criticou o que disse ser um
"aparelhamento" da Petrobras pelo PT e afirmou que, se eleito,
"vai demitir imediatamente" a diretoria da estatal. Ele falou que vai
"priorizar profissionais de carreira" em detrimento de indicações
políticas.
Aécio afirmou também que quer trazer a inflação "para
baixo do centro da meta".
Ele criticou ainda "os vândalos criminosos que atacaram
a sede de um importante veículo de comunicação", em alusão aos atos de
vandalismo na sede da editora Abril, que aconteceram na noite dessa
sexta-feira. Fonte: BBC DO BRASIL/EDITORAÇÃO JM
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