ARTISTA,POETA, ESCRITOR, NÃO
MORRE: SE ENCANTA COMO A BORBOLETA.
Não fosse eu um espiritualista convicto, um crente na
ressurreição e reencarnação das almas filhas de Deus, talvez hoje estivesse
triste a lamentar a ida de um grande amigo, que o tempo cuidou de separar, mas
que ao longo de mais de dois anos fomos unha e carne, na luta pelas letras,
artes e por poemas em Cachoeiras de Macacu, quando lancei o JM Jornal do Município
naquela cidade em 1981.
Ontem , ligando para outro grande amigo, Nilmar Marques, não
consegui falar com ele. Ai lembrei-me de Paschoal Guida e, apesar do Nilmar morar em Alcântara e
o Pascoal em Cachoeiras, tentei saber se ele tinha noticias do Nil naquelas Bandas
de Cachoeiras de Macacu.
Quem atendeu o telefonema foi a Roseane
a, esposa de Pascoal, que me deu a fúnebre noticia sem muitas reservas.
-Alô, (e como ouvi uma voz de mulher, indaguei):
- É a Roseane, a mulher do Pascoal?
- É sim!
-Chama o Pascoal pra mim?
- Quem tá falando?
-´E o Zé Mario (era assim que ele me chamava).
- O Zé Mario ?
-Sim, o Zé Mario!
- Mario lamento informar, mas o Pascoal morreu há quatro
meses.
Fiquei perplexo. Uma pausa e perguntei:
- De quê?
De doença ruim, disse.
-Que doença ruim (podia ser uma infinidade).
-Câncer, ela respondeu.
Há uns quatro meses atrás Paschoal
Guida escreveu um novo romance e ficou
de me mandar, mas o livro em Fortaleza não chegou. Vivíamos tão longe um do outro,
que nossas vidas pertenciam as nossas memorias: Paschoal tomando uma caninha,
fumando um cigarro atrás do outro. Posando para fotos do Jornal do Município,
escrevendo poemas atrás de poema para ser publicado.
Paschoal com o prefeito Manoel
da Silva, com Cezar de Almeida, com Zé Branco, com Dr. Monerat ou com o ex-prefeito Rui. Paschoal com Ubirajara
Muniz. Paschoal livre, vibrante pelo jornal e por nossa breve missão naquela
cidade, eu e Nilmar.
Paschoal tomando banho de rio com Leléu e Marcelo, seus
filhos (hoje homens casados). Pascoal sonhando com um mundo de glamour que ficara para trás
nos tempos do cinema pornô ou das novelas de revistas que protagonizou, como
galã, no Rio de Janeiro, no tempo das pornochanchadas.
Paschoal gostava de escrever a mão. Abominava a maquina de
escrever ou o computador. Era uma dessas almas puras, sinceras, diretas,
justiceira ao extremo. Escreveu muitos livros e muitos poemas. “Bobeei Mãe” era
um dos que gostava mais e até hoje esta publicado no JM porque ele nada mais me
mandou e deixei ali, como homenagem
aquele homem puro, capiau das grandes e pequenas cidades, amante da família e
dos filhos, idolatrado pela cidadezinha onde escolheu para terminar seus dias.
Paschoal não tinha medo da morte e em seus romances o tema
estava sempre presente. Sempre me incentivava a um dia voltar a Macacu, pois os
que me ameaçaram no passado, e me
puseram pra correr da cidade, por tentar exercer a livre missão jornalística, segundo
ele – estavam todos mortos!
Cachoeiras de Macacu onde fiz grandes amigos, entre os quais
Dr. Manoel da Silva, Dr.Alney e Miguel Guida, este último irmão de Paschoal,
nunca saíram de minhas memórias e estão eternizados em meus livros, em contos
ou crônicas.
E desse tempo bom, de grande felicidade, e desta vida simples que troquei ao deixar o
Rio de Janeiro e os grandes jornais, como O GLOBO, nunca pude esquecer aquele tempo mágico, cheio
de esperanças, quando o Brasil já se preparava para as Diretas e podíamos escrever
e publicar sem censura direta nossos textos e aspirações.
Paschoal não morreu como muitos podem pensar. Morreu o câncer
que tentou o matar, porque nada neste mundo mata um escritor, um poeta, uma
alma livre que soube, acima de tudo amar, no breve espaço de tempo desta vida!
ÓRION LIMA
BOBEEI, MÃE...
PASCHOAL GUIDA
AINDA NUMA NOITE DESSAS
O CÉU TAVA ZUNINDO DE TANTAS
ESTRELAS
E EU NEM ME LEMBREI DE
GUARDAR UMAS
PRA DAR A VOCÊ, NO DIA DAS
MÃES...
EU BOBEEI.
MAS TAMBÉM SE ALGUÉM ME VISSE
TREPADO NO TELHADO, CATANDO
ESTRELAS,
HAVERIA DE PENSAR:
- ELE TÁ FICANDO DOIDO!
ROUBANDO AS COISAS DE DEUS
PRA DAR PARA UMA MULHER?
MAS EU SÓ TERIA FEITO POR UMA
SANTA
E GARANTO QUE DEUS, NEM IA SE
INCOMODAR...
QUEM SABE ATÉ ELE PENSE IGUAL
A MIM,
QUE TODAS AS MÃES SÃO SANTAS?
SENÃO ELE NÃO DAVA AQUELE
JEITINHO
DE JESUS NASCER DE UMA
MULHER!
MAS AGORA, TÔ PENSANDO...
TALVEZ
A MINHA IDÉIA NEM FOSSE BOA.
QUEM SABE AS ESTRELAS
FICASSEM
CHEIRANDO A COISA GUARDADA?
A NÃO SER QUE EU JUNTASSE AS
ESTRELAS
A UMA PORÇÃO DE ROSAS!
AH, MÃE! EU BOBEEI! E SÓ VOCÊ
AGORA
NO SEU JEITO DE SANTA
É QUE PODE ME PERDOAR,
POR NÃO TER UM PUNHADO DE
ESTRELAS
COM CHEIRO DE ROSAS,
PRA LHE DAR...
Um comentário:
Lamento a perda, mas não vejo melhor forma de escritor ser homenageado do que com um belo texto como esse.
Que sua energia, agora no cosmos, possa alimentar-nos de criatividade. Um poeta, um escrito, não morre: Ele vive nos textos, e neste poema que agora está vivo em mim também!
Postar um comentário