A presidente Dilma Rousseff encerrou no domingo a
participação do Brasil no encontro do G20 – grupo que reúne as 19 maiores
economias do mundo e a União Europeia. Falando aos jornalistas, a presidente – posicionou-se sobre os
desdobramentos da Operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga o desvio
de recursos da Petrobras para partidos políticos.
Na coletiva de imprensa concedida em Brisbane, na Austrália,
a presidente afirmou considerar que a operação “pode mudar o Brasil para
sempre”.
-Eu acho que isso mudará para sempre as relações entre a
sociedade brasileira, o Estado brasileiro e as empresas privadas. O fato de
nós, neste momento, estarmos com isso de forma absolutamente aberta sendo
investigado, é um diferencial imenso”, disse a presidente durante a coletiva.
“Há aí uma diferença substantiva, eu acho que isso pode de
fato mudar o país para sempre. Em que sentido? No sentido que vai se acabar com
a impunidade”, afirmou.
Na última sexta-feira, a sétima fase da operação Lava Jato
levou à prisão de quatro presidentes de grandes empreiteiras, 15 executivos e o
ex-diretor de serviços da estatal, Renato Duque.
Afirmando que os contratos da Petrobras já estão sendo
analisados, a presidente no entanto disse não considerar que o escândalo irá
afetar a imagem da empresa como um todo, em um momento em que há um temor de
que a credibilidade da estatal entre investidores estrangeiros seja afetada.
Citando casos de corrupção ocorridos em outros países, a
presidente disse que “não é monopólio da Petrobras estar sendo investigada por
processos internos de corrupção”.
“A maioria absoluta dos membros da Petrobras, dos
funcionários, não é corrupta. Agora, tem pessoas que praticaram atos de
corrupção na Petrobras. Então, não se pode pegar a Petrobras e condenar a
empresa, o que nós temos que condenar são pessoas, e pessoas dos dois lados, os
corruptos e os corruptores.”
Dilma defendeu ainda que não é possível fazer generalizações
sobre o envolvimento de empreiteiras no escândalo.
“Eu não acho que dá para se demonizar as empreiteiras do
país. São grandes empresas e se A, B, C ou D praticaram atos de corrupção, eu
acho que eles pagarão por isso”.
Durante a entrevista, a presidente disse ainda que, entre os
membros do G20, haveria uma “frustração” com o estado da economia global, já
que se esperava um crescimento mais robusto em países desenvolvidos e
emergentes.
A presidente voltou a falar que o próximo ano será marcado
por “ajustes” na economia brasileira. Embora não tenha entrado em maiores
detalhes sobre eventuais cortes, ela sinalizou uma redução de despesas e gastos
que “não levam necessariamente à ampliação” de investimentos e do consumo.
“Nós vamos fazer ajustes. Nem todos os ajustes são pelo lado
de cortar demanda. Os nossos ajustes, alguns deles, são inclusive reduzindo
despesas que nós não achamos que sejam legítimas”, disse.
“Você tem no Brasil um conjunto de gastos e despesas que não
levam necessariamente à ampliação do investimento, nem à ampliação do consumo.
Essas despesas que não levam à ampliação do investimento e do consumo são
aquelas que nós consideramos que podem ser cortadas.”
Ainda em relação a seu próximo mandato, que se inicia em
janeiro, a presidente preferiu não se pronunciar sobre as mudanças aguardadas
em seu gabinete e não adiantou nomes de possíveis novos ministros.
No encontro do G20, Dilma também se reuniu com os líderes do
grupo Brics – que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em um
comunicado divulgado no último sábado, o grupo voltou a pedir uma reforma no
Fundo Monetário Internacional que favoreça países em desenvolvimento, em uma
cobrança que foi repetida pela presidente no domingo.
Dilma também teve um encontro com o presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama, em um momento em que as relações entre os dois países
ainda estão estão estremecidas após as denúncias de que o governo dos EUA
espionou empresas e líderes brasileiros, no ano passado.
Segundo a presidente, houve “uma conversa bastante informal”
com o americano, sem “uma discussão sistemática. Ela disse que os ministérios
das Relações Exteriores dos dois países ainda “estudam” uma eventual visita da
presidente aos EUA, após o adiamento de uma visita de Estado que faria a
Washington no ano passado.
A presidente se recusou a se posicionar ainda sobre a
situação da Ucrânia, onde conflitos com rebeldes separatistas já deixaram 4 mil
mortos desde abril. Governos ocidentais acusam a Rússia de apoiar os rebeldes,
o que é negado pelo Kremlin. Em março deste ano, a Rússia anexou a seu
território a península da Crimeia, que pertencia à Ucrânia.
Segundo Dilma, não é “do interesse do governo brasileiro” se
posicionar a respeito do tema.
“O Brasil, no caso da Ucrânia, nunca definiu uma posição.
Nós nunca nos manifestamos e evitamos sistematicamente nos envolver em assuntos
internos. Não é do interesse do governo brasileiro se manifestar a respeito de
qualquer problema dentro da Ucrânia, nem de um lado nem de outro”, disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário