MADURO USA ESTRATÉGIA
PARA MOSTRAR FORÇA E ESCONDER A CRISE POLÍTICA NA VENEZUELA: MANDA PRENDER O
PREFEITO DE CARACAS, ANTONIO LEDEZMA
Prefeito de Caracas (AP) foi preso sob acusações de
'conspirar golpe' contra o governo
Crise
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Maduro prometeu 'mãos de ferro' contra 'conspiradores'. E logo deu provas de suas intenções, com a detenção do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, tornando mais
tenso o panorama político na Venezuela.
De acordo com especialistas ouvidos, ao exigir "mão de
ferro" contra conspiradores, o presidente Nicolás Maduro aposta em uma
demonstração de força para tirar o foco dos problemas econômicos que o país
enfrenta. A estratégia seria fortalecer sua liderança, que está debilitada pela
baixa popularidade.
À sombra do líder venezuelano Hugo Chávez, Maduro opta por
uma via "mais punitiva" para mostrar poder de mando ao dizer que “não
permitirá ações desestabilizadoras.”
"Chávez preferia a disputa nas ruas, com a população em
manifestações para gerar debate de opiniões. Parece que a fragilidade da
popularidade do presidente Maduro o conduz a gerar ações mais punitivas o que
lhe permite ter um controle não obtido por meio da persuasão ou da busca de
legitimidade popular", afirmou à BBC Brasil o analista político Nicmer
Evans.
"É necessário (para o governo) mais controle e essa
ação é proporcional às dificuldades que o presidente tem para o exercício da
governabilidade", acrescentou.
Maduro acusou Ledezma de estar envolvido em um plano de
conspiração e utilizou como prova um comunicado intitulado "Acordo
Nacional para a Transição", publicado em um jornal local e assinado pelo
prefeito, pela ex-deputada Maria Corina Machado e pelo dirigente opositor
Leopoldo López, preso há um ano.
O Ministério Público disse, por meio de um comunicado, que o
prefeito foi preso "por estar supostamente vinculado a fatos conspirativos
para organizar e executar atos violentos contra o governo democraticamente
constituído". Ledezma deverá ser apresentado a julgamento "nas
próximas horas", informou o MP.
Com a mais alta inflação da América Latina e
desabastecimento de produtos básicos que obrigam os venezuelanos a perderem
horas em filas para conseguir produtos, o governo de Maduro enfrenta sua pior
crise desde a chegada de Hugo Chávez ao poder.
A dificuldade do Executivo em tomar decisões concretas para
amenizar o impacto da crise na vida da população é traduzida por alguns setores
da sociedade como falta de "pulso" e de "liderança" do
presidente.
"As medidas econômicas necessárias para esse momento
têm custo político e ele (Maduro) não quer assumir esse custo", disse
López Maya.
Passado
Nas redes sociais, simpatizantes do governo recordam os
vínculos de Ledezma, apelidado de "Vampiro", com o golpe de Estado
contra Hugo Chávez em 2002 e seu passado à frente do governo e da prefeitura de
Caracas na década de 90.
Organizações de direitos humanos o responsabilizam por
repressão e assassinato de estudantes que protestavam por melhorias nas escolas
e gratuidade do transporte público à época.
Desde que Maduro assumiu o poder, Ledezma tem apoiado a
linha mais radical da oposição que exige uma "transição" no país.
"Há uma série de antecedentes para justificar, do ponto
de vista político e jurídico, a detenção do prefeito. É um personagem que fez
severos danos à sociedade venezuelana, mas há que levar em conta que ele é um
prefeito eleito", afirmou o analista Nicmer Evans.
A detenção de Ledezma é criticada pela oposição, que reuniu
dezenas de manifestantes em Caracas, nesta sexta-feira, exigindo sua
libertação. Um panelaço foi convocado para a noite desta sexta-feira em
demonstração de repúdio.
A prisão do prefeito opositor pode favorecer a oposição em
um ano decisivo, quando o Congresso deverá ser renovado e, pela primeira vez, a
aliança opositora vê possibilidades de disputar a maioria com o chavismo.
Protestos
Protestos contra o governo de Maduro tomaram conta da
Venezuela em 2014 e ainda tem acontecido na capital
O pleito deveria ser realizado no final do ano, mas Maduro
indicou na quinta-feira que a eleição poderia ser antecipada para julho.
Com Ledezma preso, a
oposição ganha uma nova bandeira para tentar mobilizar seus eleitores às urnas,
atraídos pelo endurecimento da postura do governo.
Essa situação tende a incrementar ainda mais o racha que
existe na aliança opositora entre os radicais, liderados até agora por López, e
os moderados, representados pelo governador e ex-candidato presidencial
Henrique Capriles.
Golpe
Há uma semana, Maduro anunciou que o serviço de inteligência
havia desarticulado um plano de golpe de Estado que previa ações militares com
bombardeios em alvos específicos em Caracas. Aviões Tucano seriam utilizados na
operação.
O governo venezuelano acusa os Estados Unidos e dirigentes
opositores de cooptarem um grupo das Forças Armadas para executar o plano. O
departamento de Estado dos Estados Unidos negou as acusações.
"As alegações apresentadas pelo governo da Venezuela de
que Estados Unidos está envolvido na conspiração golpista e desestabilização
são infundadas", afirmou a porta-voz Jen Psaki.
Maduro disse que um grupo de militares que estaria envolvido
no suposto plano foi preso. Em uma sociedade que convive com o fantasma do
golpe, admitir que há conspiração interna é visto como uma decisão complexa,
uma demonstração de fragilidade.
"Não se pode descartar que exista movimentos dentro das
Forças Armadas que possam estar envolvidos em um plano para uma saída de
fato", afirmou Nicmer Evans, ao acrescentar.
"Porém o reconhecimento desses movimentos é muito mais
delicado para o governo (por mostrar fissuras entre os militares)".
Fontes próximas ao governo avaliam que a atual crise
econômica favorecem a ação de grupos golpistas.
FONTE : BBC DO BRASIL
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