O ANJO DO CAMINHO
ÓRION LIMA
Quando conheci Pedro Soares de Medeiros ainda era menino e
ele, já adulto e muito amigo de meu pai. Acostumei-me a vê-lo, nos carnavais de
antigamente, vestindo fardões alegóricos, com “galões” como o dos militares,
tocando bumbos, no Bloco dos Camarões, do saudoso Ze Maria, Chico Peba,
sargento Neves, Seu Mundinho Catolé, entre outros foliões ..
Pedro, ou Pedroca, Pedoca - como o chamávamos - era “cIicherista”,
uma profissão importante nos Jornais e revistas antes do advento do offset.
Na clicheria as fotos eram gravadas em zinco , através de um
processo químico, usando acido sulfúrico e o produto final era um clichê, uma
espécie de fotografia em alto e baixo relevo, para a ilustração visual dos
periódicos, na imprensa “gutenberguiana”,(
impressão por prensagem).
O tempo foi passando e em 1966, quando ingressei na Faculdade de
Letras, da Universidade Federal do
Ceará, Pedoca trabalhava na clicheria do
jornal no Tribuna do Ceará. Como era muito amigo do cronista Ciro Colares e do jornalista
Pedro Malmann, lhe pedi que conseguisse uma “coluna assinada” pra mim na Tribuna.
Foi assim que me tornei
jornalista, bem antes de cursar a Faculdade
de Jornalismo da UFC, o que o fiz após o vestibular de 1967, quando “tranquei”
Letras e me dediquei ao jornalismo
Pedroca passou a ser um amigo mais velho, fazendo o papel do
pai, pois o meu se matava de trabalhar na farmácia Pasteur, para sustentar os nove
filhos que gerou no mundo. Não sobrava
tempo para nada!
Assim estreitamos nossa amizade através do Espiritismo
Kardecista, na Casa de Francisco de Assis, onde ele frequentava. Posteriormente, no centro espirita
Pedro Apostolo, ou no Ismael Caridade e Luz, numa casinha humilde no sopé de
uma duna no bairro Meireles.
Gostávamos muito do debate espiritual e nossos assuntos só giravam sempre em torno
do espiritismo. Também gostávamos de pescar e passávamos horas a beira mar,
sobre os espigões, nas pontes metálicas ou na praia do Futuro. E pescávamos
muito peixe mesmo.
Desde pequeno, sempre fui muito precoce, me acompanhava de pessoas
mais sabias ou mais velhas. Queria beber o conhecimento, precisava apender os mistérios
da vida e da morte e o kardecismo, através de Pedro, foi a minha primeira porta.
Por isso, muitos anos
mais tarde (30 anos), depois de passar em torno de 20 anos no Rio de Janeiro
,onde terminei jornalismo, lecionei e militei na imprensa carioca e paulista,
voltei para casa de meus pais, em Fortaleza.
Encontrei Pedro mais velho, já aposentado e demos prosseguimento a nossa caminhada espiritual
interrompida como minha ida para o Rio, nos Evangelhos na casa dele ou da Irma
Dulce ou no Pedro Apostolo ou onde alguém precisasse de luz espiritual.
Só que voltei mudado. Agora era “babalorixá” de Umbanda Esotérica e mais uma vez Pedro me ajudou.
Levou-me para frequentar o Centro de Umbanda do Pai Gildo Cardoso , lá no Parque
Luzardo Viana, em Maracanaú. Ali começava outra etapa de nossas histórias.
Um ano depois sai do Centro do Pai Gildo e fundeia Seara de Oxalá,
Casa de Xangô e Pedoca continuava me ajudando, porque o nosso objetivo – não se
prendia só a Umbanda ou ao Kardecismo : nossa meta era prestar caridade, servira Oxalá, sem nunca
dizer não!”
Operei o coração em 2002, ele me visitava
todas semanas na Cidade 2000 para rezarmos juntos por minha recuperação. E
assim foi dali por diante.
Quando lancei meu primeiro livro de contos, em 2012, - DAS COISAS, DA VIDA E DA MORTE E, DE CHICO ASA
BAIXA- (CONTOS ESPIRITUALISTAS E PARANORMAIS), - fiz a Pedro Soares de Medeiros uma homenagem e o
nomeei como meu “Anjo do Caminho’ .
Ontem, quarta-feira,
15, fui chamado as pressas para visita-lo em sua casa, na Praia de Iracema. Sua
filha Jaqueline me informou que ele estava muito fraco, que já não falava nem
se alimentava direito.
Indagado pelo
geriatra que o visitou se queria ir para um hospital ele balbuciou estas
palavras:
- Pra quê?
Pedoca, espirita convicto
sabia que se aproximava sua hora.
Quando lhe disseram
que eu estava ali para visita-lo ele se agitou. A respiração entrecortada se
apressou e, com um leve sorriso, que lhe marcou o canto da boca, estendeu-me o braço
esquerdo e tentou apertar minha mão, mas não teve força.
Frio como gelo estava
a sua mão! Apertei-a vigorosamente e
disse :
-Receba um passe dessa mão gorda! Tentando anima-lo.
Durante o tempo em
que estive com ele, ainda perguntei-lhe se sentia dores e ele balbuciou que “não”!
Então comecei a ouvir
o hino de Bezerra de Menezes, que tantas vezes cantamos nas práticas espiritas!
-Ele esta bem assistido espiritualmente, disse. Os mentores
o anestesiaram!
E continuei:
Francisco de Assis ,(de
quem era devoto fervoroso) esta aqui , afirmei
e com ele e Bezerra de Meneses, Pai Congo,
Vovó Maria Conga, seu Ubirajara, entidades da Umbanda que comigo aprendeu a
venerar.
Logo anoiteceu, nos despedimos da família, e sua neta Lorena veio
nos deixar na Cidade 2000 .
Durante todo o percurso continuei ouvindo o hino a
Bezerra e Menezes. Quando Cheguei em casa passei a cantá-lo: “Bezerra de
Menezes servo do Senhor, apostolo do Cristo a nos iluminar, suave mentor, em passes
de amor , aguas fluidificai...”
Por volta de 21 horas o telefone tocou e enquanto
Jaqueline , sua filha e eu conversarmos, ouvi aquela voz:
- A respiração parou!
A ligação caiu! E
logo depois me confirmaram em outra ligação, que Pedro Soares de Medeiros, -
Pedroca, Pedoca ou meu Anjo Caminho, com quase 90 anos de idade, tinha voltado ao
Criador!
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