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Ano 6 - Edição 2451-

- Março

2016 -

Fortaleza-Ceará-Brasil

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A PASSAGEM DE PEDRO SOARES DE MEDEIROS, O ANJO DO CAMINHO.


                 
O ANJO DO CAMINHO

                          ÓRION LIMA

Quando conheci Pedro Soares de Medeiros ainda era menino e ele, já adulto e muito amigo de meu pai. Acostumei-me a vê-lo, nos carnavais de antigamente, vestindo fardões alegóricos, com “galões” como o dos militares, tocando bumbos, no Bloco dos Camarões, do saudoso Ze Maria, Chico Peba, sargento Neves, Seu Mundinho Catolé, entre outros foliões ..

Pedro, ou Pedroca, Pedoca - como o chamávamos - era “cIicherista”, uma profissão importante nos Jornais e revistas antes do advento do offset.

Na clicheria as fotos eram gravadas em zinco , através de um processo químico, usando acido sulfúrico e o produto final era um clichê, uma espécie de fotografia em alto e baixo relevo, para a ilustração visual dos periódicos, na imprensa  “gutenberguiana”,( impressão por prensagem).

O tempo foi passando e   em 1966, quando ingressei na Faculdade de Letras, da Universidade  Federal do Ceará, Pedoca  trabalhava na clicheria do jornal no Tribuna do Ceará. Como era muito amigo do cronista Ciro Colares e do jornalista Pedro Malmann, lhe pedi que conseguisse uma “coluna assinada”  pra mim na Tribuna.

Foi  assim que me tornei  jornalista, bem antes de cursar a Faculdade de Jornalismo da UFC, o que o fiz após o vestibular de 1967, quando “tranquei” Letras e me dediquei ao jornalismo

Pedroca passou a ser um amigo mais velho, fazendo o papel do pai, pois o meu se matava de trabalhar na farmácia Pasteur, para sustentar os nove filhos que gerou  no mundo. Não sobrava tempo para nada!

Assim estreitamos nossa amizade através do Espiritismo Kardecista, na Casa de Francisco de Assis, onde  ele frequentava. Posteriormente, no centro espirita Pedro Apostolo, ou no Ismael Caridade e Luz, numa casinha humilde no sopé de uma duna no bairro Meireles.

Gostávamos muito do debate espiritual  e nossos assuntos só giravam sempre em torno do espiritismo. Também  gostávamos  de pescar e passávamos horas a beira mar, sobre os espigões, nas pontes metálicas ou na praia do Futuro. E pescávamos muito peixe mesmo.

Desde pequeno, sempre fui muito precoce, me acompanhava de pessoas mais sabias ou mais velhas. Queria beber o conhecimento, precisava apender os mistérios da vida e da morte e o kardecismo, através de Pedro, foi a minha primeira porta.

Por isso, muitos  anos mais tarde (30 anos), depois de passar em torno de 20 anos no Rio de Janeiro ,onde terminei  jornalismo, lecionei  e militei na imprensa carioca e paulista, voltei para casa de meus pais, em Fortaleza.

Encontrei Pedro mais velho, já aposentado e demos  prosseguimento a nossa caminhada espiritual interrompida como minha ida para o Rio, nos Evangelhos na casa dele ou da Irma Dulce ou  no Pedro Apostolo  ou onde alguém precisasse de luz espiritual.

Só que voltei mudado. Agora era “babalorixá” de Umbanda  Esotérica e mais uma vez Pedro me ajudou. Levou-me para frequentar o Centro de Umbanda do Pai Gildo Cardoso , lá no Parque Luzardo Viana, em Maracanaú. Ali começava outra etapa de nossas histórias.

Um ano depois sai do Centro do Pai Gildo e fundeia Seara de Oxalá, Casa de Xangô e Pedoca continuava me ajudando, porque o nosso objetivo – não se prendia só a Umbanda ou ao Kardecismo : nossa meta  era prestar caridade, servira Oxalá, sem nunca dizer não!”

Operei o coração em 2002,  ele  me visitava todas semanas na Cidade 2000 para rezarmos juntos por minha recuperação. E assim foi  dali por diante.

Quando lancei meu primeiro livro de contos, em 2012,  - DAS COISAS, DA VIDA E DA MORTE E, DE CHICO ASA BAIXA- (CONTOS ESPIRITUALISTAS E PARANORMAIS), - fiz  a Pedro Soares de Medeiros uma homenagem e o nomeei como meu “Anjo do Caminho’ .

Ontem, quarta-feira, 15, fui chamado as pressas para visita-lo em sua casa, na Praia de Iracema. Sua filha Jaqueline me informou que ele estava muito fraco, que já não falava nem se alimentava direito.

Indagado pelo geriatra que o visitou se queria ir para um hospital ele balbuciou estas palavras:

- Pra quê?

Pedoca, espirita convicto sabia que se aproximava sua hora.

Quando lhe disseram que eu estava ali para visita-lo ele se agitou. A respiração entrecortada se apressou e, com um leve sorriso, que lhe marcou o canto da boca, estendeu-me o braço esquerdo e tentou apertar minha mão, mas não teve força.

Frio como gelo estava a sua mão! Apertei-a  vigorosamente e disse :

-Receba  um passe dessa mão gorda!  Tentando anima-lo.

Durante o tempo em que estive com ele, ainda perguntei-lhe se sentia  dores e ele balbuciou que “não”!

Então comecei a ouvir o hino de Bezerra de Menezes, que tantas vezes cantamos nas práticas espiritas!

-Ele esta bem  assistido espiritualmente, disse. Os mentores o anestesiaram!

E continuei:

Francisco de Assis ,(de quem era devoto fervoroso) esta  aqui , afirmei  e com ele e Bezerra de Meneses, Pai Congo, Vovó Maria Conga, seu Ubirajara, entidades da Umbanda que comigo aprendeu a venerar.

Logo anoiteceu, nos  despedimos da família, e sua neta Lorena veio nos deixar na Cidade 2000 . 

Durante todo o percurso continuei ouvindo o hino a Bezerra e Menezes. Quando Cheguei em casa passei a cantá-lo: “Bezerra de Menezes servo do Senhor, apostolo do Cristo a nos iluminar, suave mentor, em passes de amor , aguas fluidificai...”

Por  volta de 21 horas o telefone tocou e enquanto Jaqueline , sua  filha  e eu conversarmos, ouvi aquela  voz:

- A respiração parou!

A ligação caiu! E logo depois me confirmaram em outra ligação, que Pedro Soares de Medeiros, - Pedroca, Pedoca  ou meu Anjo Caminho,  com quase 90 anos de idade, tinha voltado ao Criador!

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