QUAL O SEXO DOS POMBOS
Certo dia sentou-se no banco da praça, acendeu a metade que sobrou de seu charuto e deu algumas baforadas. Meteu a mão em um saco de papel cheio de migalhas de pão para alimentar os pombos. Deu outra baforada, e sua fumaça atribuía gentis tons alaranjados quando era refletida pelos raios do sol que estava perto de se pôr.
À sua frente, em um pequeno lago onde patos e marrecos nadavam, ilhava uma choupana feita em madeira envernizada, situada bem no meio, cujo único caminho que os levava até lá era uma ponte de madeira enfeitada pelas trepadeiras que nasceram por ali. E lá um casal, sentados um de frente para o outro, acariciavam-se com ternura.
Mesmo que ainda lhe causasse certa estranheza, veja bem, considerando seus cinquenta e poucos anos e todos os conceitos de sua criação machista, não lhe incomodava ver dois rapazes em uma demonstração tão meiga de afeto.
Continuou alimentando os pombos até que, de rabo de olho, notou a aproximação do guarda da praça, que vinha rodando o cassetete na mão, com passos firmes e metódicos como se fosse o marechal do exército de guardinhas do parque.
OPINIÃO DO EDITOR
SER
OU NÃO SER - EIS A QUESTÃO !
ÓRION LIMA
Fui colhido de surpresa por sua evolução, na maneira de
aceitar a diversidade com a qual o Criador dotou os seres humanos. Se cremos
que tudo foi criado por um ser Superior e ilimitado, estudando as lendas
humanas, suas taras e paixões, desejos e escolhas, somos obrigados a nos curvar
diante daquele, que para nós tudo sabe e é perfeito.
A lenda humana de Adão e Eva, de certa forma , nos reporta a
esse ‘pseudo’ inicio da criação. Mas
porque, criar primeiramente o homem, após fazer um boneco de barro, a sua imagem e semelhança e soprar em
suas narinas, transmitindo-lhe a vida consciente?
Sabemos que o sopro é o alento do espírito e de certa
forma sua origem: vivemos semanas sem alimentos, dias sem água e 3 minutos sem
o ar (oxigênio). Começamos a viver com o primeiro suspiro e morremos para os humanos quando expiramos o último golpe de ar !
Os nossos corpos, sensações, emoções são moldados por esse
sopro de alento eterno, (spiritus?) que quando é libertado pela
morte, nos deixa vazios e irremediavelmente inertes, a mercê dos vermes ou da
mumificação.
Enquanto vivos, talvez por uma questão de logica quântica, o
Criador-examinando seu primeiro protótipo de homem viu que ele seria
irremediavelmente só e que quando estivessem juntos só poderiam expressar a parte mais
divina do amor de uma forma simbólica e afetuosa.
Ai teria voltado atrás e criado a replica feminina do homem, dando a
ela os atributos de hospedeira, em sua própria carne (ventre), do divino ser
que se chamaria “ser humano” . Mas deve ter morrido de “paixão” por sua primeira
versão do ser criado, tão parecido com ele em essência (Deus/Pai/Mae), que não
o extinguiu , deixando viver entre os outros seres como opções da liberdade de viver e criar sem limitações.
Helena P. Blavatsky nos fala em sua “Doutrina Secreta”, obra basilar da Teosofia, por ela organizada, de uma primeira raça criada, que seria totalmente
andrógena ( com os dois sexos)- não com os dois gêneros (masculino e feminino).
Essa raça não teria servido aos propósitos da criação em massa, por isso foi ou prosternada
para outras épocas, - tanto é que ela nos fala de “um sétimo estágio da raça humana que seria , novamente, totalmente andrógena
“.
Esses tempos são chegados?
Como olhar para a natureza humana tão cheia de
possibilidades, diante de uma população de mais de dez bilhões de seres, que
ainda vivem – alguns, primitivamente, do
ponto de vista filosófico, tecnológico, social ou místico – muitos morrendo de
fome ou a mercê de novos vírus, mais destruidores da vida do que o HIV ( o Ebola,
por exemplo)?
A Civilização moderna atingiu níveis de aprimoramento tecnológico inimaginável,
em apenas algumas décadas do Novo Milênio.
O mais importante do ponto de vista humano, para qualquer tipo
de ser – é amar. O amor é mimético, camaleônico, até, porque é indispensável ao
ser e aos seres, independente da intolerância, preconceito, e moral arcaica –
porque o homossexualismo sempre existiu em todas as eras e tempos, em níveis culturais,
conscientes, ou não.
Já foi constatado por cientistas, que até mesmo entre ratos
confinados ou em stress. Pesquisas
cientificas dão conta não apenas do hermafroditismo
das plantas e alguns vegetais e até mesmo na auto geração entre as
salamandras, duplicação de órgãos da reprodução
em seres humanos mutantes ou em animais, deixando o seu rastro por toda natureza criada.
Existe um Criador? Cremos
que existe. E qual o proposito de tudo
isto ? Qual o papel do hermafroditismo, que gera seres humanos com os dois órgãos
genitais, que raramente se autofecundam?
Helena Petrovna Blavatsky
e muitos outros estudiosos do assunto comungavam
a ideia de que o bíblico “ pecado original
“ nada mais seria do que a precipitação de
Eva em usar o Adão (mitológico) com os órgãos sexuais ainda imaturos e em
formação (pedofilia?).
Os Senhores da Raça ( Os Programadores dos Seres) , Orixás
da Criação, como creem os africanos (a raça mais antiga do planeta, com cerca
de sete mil anos) teriam cometido equívocos
que a raça humana paga até hoje como um “pecado” que não cometeu.
Temos no panteão africano, Orixás “metá-metá ” (andrógenos): Oxóssi, o Rei d
Mata, Ossain ou Ossãe , o dono (a) das Folhas e dos seus Erós (segredos);
Oxumaré ( divindade do Arco Iris- que seis meses se manifesta como um “lindo”
rapaz e seis meses como uma bela mulher);
Logum-edé, filho de Oxum com Oxóssi, (seis meses caça na mata com pai e
seis meses nada no rio com a mãe), usando seus apetrechos, (um espelho e um arco e flecha), entre outros.
O Orixá feminino Yança, há quem diga que é o duplo (feminino
) de Xangô, o Orixá do Raio e da Justiça, senhor das aferições cármicas . Assim
tudo tem seu verso e reverso no mundo prodigioso da criação no Panteão Africano. A ciência hoje já aceita a ideia de um Universo e de um Multiverso. Só a ignorância e a intransigência humana dos machistas veem a criação com outros olhos, o da
miopia esclerosada.
Assim, o Caim “mitológico”
seria o primeiro caso do Complexo de Édipo, que Freud tão bem fundamentou . Por isso
teria matado Abel: por ciúmes de sua mãe
, Eva!(?)
Há um jargão muito conhecido que diz que por trás de todo “Dom
Juan” existe sempre um homossexual. Ou seja:
todo machista inveterado esconde impulsos que se fossem livres os tornariam lindas “borboletas”, a exemplo
dos que se vestem de mulher nos carnavais, ou que usam calcinhas femininas, as
escondidas, ou que só se revelam (escondem) por trás de vultosos bigodes ou porres
“homéricos”.
Sigmund Freud chegou
a afirmar que na humanidade só existe
10% de puros heterossexuais. O restante oscilaria em gradações, numa escala cromática que vai do vermelho até o azul
.
E o que tudo isso
importa para o ser na terra? As ações, o modo de vida escolhido para viver,
servindo ao próximo, amando e sendo
amado, - porque a vida é breve e dela nada
se leva mesmo!
Como disse Shakespeare,
na tragédia (To be or not to be,
that's the question) - A tragédia de Hamlet. Ser ou não ser, eis a questão!
Outros diriam: ter ou
não ter. Mas isso não resolveria também nada.
Assim, como o velho do texto, melhor é viver e deixar os
outros viver, pois só se responde pelos próprios atos , desejos, e, o que determina a vida é a
escolha que se faz.
A propósito: não se
conhece mesmo, a não ser que seja um criador aficionado, o sexo dos pombos. Mas
qualquer um sentirá a excitação regurgitante de seus bicos (beijos) em afagos
e até mesmo a troca de posições (um hora por cima, outro, por hora, em baixo,
para assegurar o êxito da copula e da procriação).
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